Atenas - A Grécia realiza no domingo (6/5) as eleições legislativas mais incertas das últimas décadas, após dois anos de políticas de austeridade que desgastaram os partidos tradicionais e abriram espaço para organizações que questionam a permanência do país na Eurozona. O partido Nova Democracia (ND, direita), de Antonis Samaras, se anuncia como o favorito nas pesquisas, embora sem maioria absoluta, o que deixa antever um novo governo de coalizão como o que deixa agora o poder, formado pelo ND e pelo PASOK (socialista) de Evangelos Venizelos.
As pesquisas publicadas há duas semanas, antes que sua divulgação fosse proibida, concediam 25% das intenções de votos ao ND e 20% ao PASOK, que insistem na necessidade de um "governo estável" para sair da crise. Em 2009, o PASOK obteve 43,9% dos votos e o ND 33,4%. As pesquisas mostravam também uma grande dispersão de votos, em meio a uma forte oposição ao plano de resgate da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), que levou a várias ondas de cortes de salários e aposentadorias.
De fato, após dois anos de crise, os 9,8 milhões de eleitores gregos vão às urnas com uma ultraesquerda reforçada, com o aparecimento de uma formação neonazista, a atomização da direita e um bipartidarismo enfraquecido. Cerca de dez partidos podem superar os 3% dos votos exigidos para ter representação parlamentar.
Entre eles figuram os comunistas do KKE, que devem melhorar os 7,3% obtidos em 2009, assim como os Gregos Independentes, um grupo conservador criado em março que rejeita o plano de resgate da UE e do FMI, o neonazista Amanhecer Dourado ou o pró-europeu Partido de Esquerda Democrática.
Também têm certas chances o Pacto Social, oposto à austeridade, o Antarsa (esquerda anticapitalista) e o partido "Não vou pagar", surgido após uma campanha de desobediência civil lançada em 2010. Os dois partidos tradicionais advertem que o que está em jogo nestas eleições é a permanência da Grécia na Eurozona, e não manifestar apoio ou rejeição às políticas de austeridade.
Venizelos voltou a agitar nesta semana o fantasma de um retorno ao dracma (a moeda anterior) se a Grécia não conseguir formar um governo após as legislativas. Esta coincidência na necessidade de estabilidade não significa, no entanto, que exista uma vontade de perpetuar a aliança dos dois adversários históricos.
Samaras quer uma maioria clara, para que a direita possa governar "sozinha", com um mandado forte, em nome da estabilidade política. Uma coalizão não responderia ao interesse do povo grego, mas apenas ao do PASOK, o que condenaria os gregos ao estancamento, declarou. Venizelos, por sua vez, lembra que o ND agitou inicialmente uma oposição "estéril" aos planos de resgate da UE, antes de aceitar a ideia de uma coalizão após a renúncia em novembro do primeiro-ministro socialista Giorgos Papandreou.