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Crimes mantêm liberdade de imprensa sob pressão na América Latina

México - A liberdade de imprensa na América Latina permanece assediada pela violência que aflige a região, como mostram os recentes assassinatos de quatro jornalistas no Brasil e o sequestro de um jornalista francês pela guerrilha na Colômbia na semana passada.

De acordo com a ONG Conectas Direitos Humanos, com sede em São Paulo, o Brasil "tem um jornalista assassinado para cada mês de 2012". O caso mais recente foi o de Décio Sá, de 42 anos, autor de um blog de denúncias de corrupção assassinado na semana passada em São Luiz, capital do Maranhão.

Além dele, em fevereiro, Paulo Roberto Rodrigues, conhecido como Paulo Rocaro, diretor da página na internet Mercosul News, foi morto a tiros em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, perto da fronteira com o Paraguai.

Uma semana antes, Mario Lopes, que dirigia o site "Vassouras na net", de denúncias contra políticos, juízes e policiais, tinha sido morto a tiros no sul do Rio de Janeiro.

E em janeiro foi assassinado Laércio de Souza, jornalista da rádio Sucesso, em Camaçari, Bahia.

Os casos preocupam e promovem a discussão de uma legislação que puna com mais rigor os crimes praticados contra jornalistas, segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), com sede em Brasília.

"Estes números preocupam a FENAJ. Não tão graves como em outros países da região, por exemplo no México, mas nos preocupam bastante. Uma das principais ações, em nível político, que levamos adiante é combater a impunidade e, para isso, estamos trabalhando em um projeto de lei que federaliza os crimes contra jornalistas", apresentado em 13 de abril, informou à AFP Maria José Braga, vice-presidente da entidade.

Para Jesús Peña, do Departamento do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos no México, o pior ataque contra a imprensa é a impunidade que cerca os crimes contra jornalistas.

As agressões "confirmam a situação precária que a classe jornalística enfrenta e a necessidade de se adotar medidas que permitam prevenir e proteger estes atores importantes para qualquer sociedade democrática", disse Peña, durante encontro com jornalistas na Cidade do México na véspera da comemoração do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, nesta quinta-feira.

No sábado, Regina Martínez, repórter da revista Proceso, que investigava casos de corrupção de autoridades locais e sua relação com o narcotráfico, foi morta em sua residência em Veracruz (leste) e na terça-feira o cartel de Los Zetas deixou uma mensagem ameaçadora contra a imprensa de Michoacán (oeste), junto de cinco cadáveres.

No país não há avanços significativos nas investigações, o que gera um clima de impunidade que faz com que os agressores dos jornalistas, com meios de se proteger, ganhem confiança.

O caso do México, dividido entre confrontos dos cartéis das drogas e operações militares e policiais contra o narcotráfico, no entanto, não é o mais grave, pelo menos no que diz respeito a números. Em Honduras, 18 jornalistas foram mortos nos últimos dois anos.

"Estamos falando de um problema regional que afeta vários países. Por isso, temos que promover a troca de experiências para a proteção", disse à AFP Gisela Martínez, da Associação Mundial de Rádios Comunitárias e uma das promotoras de uma lei aprovada na semana passada pelo Congresso mexicano para proteger jornalistas em risco.

"Os homicídios comovem e indignam, mas não podemos esperar que aconteça outro caso para que iniciativas sejam postas em prática", afirmou Luis González, presidente da Comissão de Direitos Humanos do Distrito Federal no México.

Algumas dessas iniciativas, como retirar rapidamente os jornalistas de um local quando forem ameaçados ou promover medidas de proteção, fornecendo segurança aos meios de comunicação e repórteres, foram implementadas com a ajuda de organizações internacionais na Colômbia, que durante anos foi o país com o maior número de jornalistas assassinados no mundo.

Nos últimos anos "tem havido uma diminuição notável dos assassinatos de jornalistas", disse à AFP Andrés Morales, diretor da colombiana Fundação para a Liberdade de Imprensa (Filp).

"Mas esta diminuição não se traduz em respeito maior à liberdade de imprensa. Ainda há uma situação de violência muito forte, que se vê no caso do jornalista francês Romeo Langlois (sequestrado em 28 de abril) e a grande autocensura em temas de conflito armado, corrupção de autoridades locais e mineração ilegal", afirmou.

Langlois, de 35 anos, foi sequestrado durante um confronto entre uma patrulha militar, a qual acompanhava para fazer uma reportagem para a emissora de televisão francesa France 24, e guerrilheiros das Farc, no departamento (estado) de Caquetá (sul), confirmou nesta quarta-feira o Exército colombiano.