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Insultos e declarações alarmistas endurecem campanha eleitoral francesa

Paris - Insultos, injúrias e declarações alarmistas aumentam a tensão da campanha eleitoral pela presidência francesa, a dez dias do segundo turno que será disputado no dia 6 de maio entre o socialista François Hollande e o presidente atual, o conservador Nicolas Sarkozy.

O campo governista alerta para os supostos riscos que a França correria em caso de vitória de Hollande, que vão de uma nova tempestade financeira à legalização massiva de imigrantes ilegais. A esquerda, por sua vez, denuncia as "mentiras" e os "argumentos indignos" da direita.

Sarkozy afirmou na quarta-feira (25/4) que seu adversário socialista recebeu o apoio de "700 mesquitas" e do controverso intelectual muçulmano suíço Tariq Ramadan, o que ele desmentiu, e disse que Hollande se propõe a regularizar todos os imigrantes ilegais. Hollande respondeu nesta quinta-feira (26/4), acusando Sarkozy de cometer uma transgressão em sua tentativa de atrair os eleitores de extrema-direita e criticou suas "mentiras". Esta "amálgama", esta "mentira", "é significativa da deriva de Nicolas Sarkozy", disse Hollande.

O presidente-candidato, que ficou em segundo lugar no primeiro turno (com 27,18% dos votos), atrás de Hollande (28,63%), centrou sua campanha em temas como a imigração, a defesa das fronteiras e a denúncia das elites.

Estes temas fazem parte tradicionalmente do discurso da Frente Nacional (FN), o partido de extrema-direita de Marine Le Pen, que no primeiro turno, de 22 de abril, ficou em terceiro lugar, com quase 18% dos votos.

Vários representantes dos muçulmanos da França declararam nesta quinta-feira (26/4) sua insatisfação pelo fato de que esta comunidade seja alvo de manipulações. "Desafio quem quer que seja a fornecer provas de que mesquitas pediram votos para este ou para aquele candidato", disse Abdullah Zekri, presidente do Observatório da Islamofobia do Conselho francês do Culto Muçulmano (CFCM).

Na quarta-feira (25/4), o deputado de direita Lionnel Luca desencadeou outra polêmica ao chamar em um comício a companheira de Hollande, Valérie Trierweiler, de "rottweiler" e ao criticar com palavras sexistas a ex-secretária de Estado de Nicolas Sarkozy, Fadela Amara, que convocou a votar por Hollande.

Já o jornal comunista L;Humanité desencadeou a ira da direita ao publicar na primeira página as fotos de Nicolas Sarkozy e do marechal Pétain, que dirigiu o governo colaboracionista durante a Segunda Guerra Mundial.

No plano das declarações alarmistas, o ministro das Relações Exteriores, Alain Juppé, considerou nesta quinta-feira que o candidato socialista pode "desencadear uma crise das dívidas soberanas da Europa". Uma advertência similar à agitada pelo próprio Sarkozy em meados de abril. "Hollande não se compromete com a estabilidade, rejeita a regra de ouro (de equilíbrio orçamentário) e corre o risco de desencadear uma nova crise das dívidas soberanas na Europa", disse Juppé. Bruno Le Roux, um dos porta-vozes do candidato socialista, acusou o chanceler de incentivar "com meias palavras os especuladores para que atuem contra a dívida francesa".

Este grau de tensão eleitoral alcança "um nível quase inédito", disse o cientista político Stéphane Roz;s, presidente do instituto Conselho, Análises e Perspectivas (CAP). Segundo Roz;s, este clima se deve, em grande medida, à estratégia adotada por Sarkozy, que se encontra "em uma posição muito difícil e deve virar a mesa se quiser supreender". A equipe de Hollande, que critica a campanha indigna de Sarkozy, faz uma análise similar, considerando que o candidato da direita "perde espaço".

Segundo a última pesquisa de intenções de voto, publicada nesta quinta-feira pelo instituto TNS Sofres/Sopra Group, Hollande ganharia o segundo turno com 55% dos votos, e Sarkozy obteria 45%.