Haia - O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, apresentou nesta segunda-feira (23/4) a renúncia de seu governo de centro-direita, após o fracasso das negociações sobre a redução do déficit público com seu aliado parlamentar de ultradireita.
Rutte saiu pouco depois das 14h GMT (11h de Brasília) do palácio da rainha Beatrix, em Haia, e depois tornou público o comunicado oficial de renúncia.
"O primeiro-ministro, Rutte, apresentou no dia 23 de abril de 2012 a sua majestade, a Rainha, a renúncia de todos os ministros e secretários de Estado com efeito imediato", anunciou o texto.
A rainha, que recebeu o primeiro-ministro durante duas horas, "pediu aos ministros e aos secretários de Estado que continuem fazendo tudo o que considerarem necessário em interesse do Reino", acrescentou o comunicado.
As negociações sobre a redução do déficit público, iniciadas no dia 5 de março, fracassaram no sábado depois que Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade (PVV), decidiu romper o acordo de apoio parlamentar que havia estabelecido com o governo minoritário de Rutte, no poder desde outubro de 2010.
O primeiro-ministro convocou um conselho de ministros extraordinário para a manhã desta segunda-feira e declarou que lhe parecia evidente a organização de eleições legislativas antecipadas.
Na terça-feira está prevista uma sessão parlamentar, a partir das 12h GMT (09h de Brasília), na qual Rutte informará aos deputados sobre a decisão.
"A bola está agora no campo do Parlamento", afirmou à imprensa o ministro das Finanças, Jan Kees de Jager, que espera ter mais "clareza" a partir de terça-feira sobre as medidas de redução do déficit público que deverá apresentar à Comissão Europeia antes de 30 de abril.
As negociações entre o Partido Liberal (VVD) de Mark Rutte, o Partido Democrata Cristão (CDA) do vice-primeiro-ministro Maxime Verhagen e o PVV de Wilders tinham por objetivo estabelecer um corte de gastos de 16 bilhões de euros em 2013 para respeitar as normas europeias de déficits públicos.
O déficit holandês alcançou 4,7% do PIB em 2011, longe do limite de 3% imposto na Eurozona.
No entanto, Wilders negou-se a aprovar determinadas medidas que teriam amputado o poder aquisitivo dos holandeses.
Entre as medidas avaliadas estava um leve aumento do IVA, um congelamento do salário dos funcionários e uma redução dos orçamentos destinados à saúde e à ajuda aos países em desenvolvimento.
Segundo os analistas, a Holanda corre o risco de perder a preciosa triplo A, a nota máxima concedida pelas agências de classificação financeira às dívidas soberanas.
O Partido da Liberdade, antieuropeu e islamofóbico, apoiava o governo no Parlamento, garantindo uma maioria de 76 deputados sobre 150, até que no dia 21 de março um deputado renunciou ao PVV, deixando a maioria incerta.
Seu polêmico líder, Geert Wilders, de 48 anos, não hesita em assegurar que tem uma missão: lutar contra a islamização de seu país. Também classifica o Alcorão de livro fascista e em junho de 2011 foi absolvido da acusação de incitação ao ódio por ter comparado o livro sagrado dos muçulmanos ao "Mein Kampf" de Adolf Hitler.
Vive continuamente protegido e seu local de residência é um segredo pelas ameaças de morte recebidas.
Wilders, que não oculta sua ambição de chegar ao cargo de primeiro-ministro, conseguiu nas legislativas antecipadas de 2010 que seu partido triplicasse os resultados em relação às eleições de 2006, convertendo-se na terceira força do país.