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Breivik diz que pena de morte ou absolvição são as únicas sentenças justas

Oslo - Anders Behring Breivik, processado pela morte de 77 pessoas na Noruega, afirmou nesta quarta-feira (18/4), no terceiro dia de seu julgamento, que só a pena de morte ou a absolvição são veredictos justos para seu processo, mas guardou segredo sobre seus contatos com outros extremistas nacionalistas que teriam levado à criação dos Cavaleiros Templários, a organização mística à qual afirma pertencer.

"Há apenas dois desfechos justos neste caso: a absolvição ou a pena de morte", declarou o extremista de direita.

"Uma pena de prisão de 21 anos é patética. Não desejo (a pena de morte), mas respeitaria o veredicto", disse.

"Eu aceito a morte. Eu encarei a ação de 22 de julho como uma missão suicida", enfatizou. "Não esperava sobreviver".

A pena de morte não existe na Noruega.

Se for declarado penalmente responsável por "atos de terrorismo", o extremista de direita de 33 anos pode ser condenado a 21 anos de prisão, pena que pode ser prolongada de forma indefinida se ele for considerado uma ameaça para a sociedade.

Se, ao contrário, os cinco juízes do tribunal de Oslo o declararem irresponsável em sua sentença prevista para julho, Breivik pode ser internado num hospital psiquiátrico.

Ao falar sobre a existência de outras "células", o réu afirmou, em resposta a uma pergunta da promotoria, que elas poderão atacar a qualquer momento.

"Eu não quero falar sobre isso", repetiu Breivik em resposta às insistentes perguntas da promotora Inga Bejer Engh sobre as mencionadas células.

"Não quero fornecer informações que possam levar a outras detenções", disse.

Em seu manifesto de 1.500 páginas divulgado no dia dos ataques, o extremista de direita de 33 anos afirmou ser membro de uma rede de militantes nacionalistas, os Cavaleiros Templários, que teria sido fundada com outras três pessoas em Londres em 2002.

A polícia norueguesa nunca conseguiu provar a existência desta rede.

"Sou apenas um militante nacionalista entre muitos outros", acrescentou Breivik. "Se nossas exigências não forem atendidas e se o Partido Trabalhista não parar de destruir a cultura norueguesa, voltará a acontecer", afirmou ainda, referindo-se a novos ataques.

Apresentando-se como um soldado em guerra para proteger "os noruegueses puros da invasão muçulmana", o extremista reconheceu os fatos, mas não quis se declarar culpado.

Fundada com outros três militantes nacionalistas europeus - cujas identidades não quis revelar -, esta organização seria informal e composta por "células individuais e autônomas" que podem atuar separadamente uma das outras, explicou.

Duas das células estariam na Noruega e outras 15, espalhadas pela Europa, indicou o atirador, que calculou em 80 o número de integrantes.

Lamentando "a ação acima de tudo patética dos militantes nacionalistas na Europa desde a Segunda Guerra mundial", Breivik afirmou que deseja "do ponto de vista metodológico" que os ativistas se inspirem na Al-Qaeda.

"Desejo que mais pessoas se comprometam no combate para salvar a Noruega e a Europa", afirmou, alegando ser "antinazista" em resposta à pergunta de um juiz.

Um promotor do julgamento de Breivik afirmou, por sua vez, que não acredita na alegação do acusado de que mais células esperam para atacar o país.

"Não acreditamos que existam mais células", disse o promotor Svein Holden após o fim do terceiro dia de julgamento.

Breivik explicou que entrou em contato casualmente na internet com uma pessoa no exterior em 2001, e que este encontro fez nascer a ideia da criação dos Cavaleiros Templários.

Breivik também reafirmou ter viajado à Libéria para se encontrar com um militante nacionalista sérvio, embora tenha se negado a fornecer o nome deste militante e as razões do encontro, limitando-se a mencionar um processo de seleção.

Embora na terça-feira tenha se mostrado cooperativo com as perguntas relativas a sua educação e a sua atividade profissional, quando a acusação reforçou o caminho do interrogatório para esclarecer como ocorreu sua radicalização, Breivik não quis responder muitas perguntas.

"Entendo que você quer tirar minha legitimidade", disse a Bejer Engh, que - como a polícia - deseja conhecer melhor o real motivo da suposta viagem à Libéria.

Breivik apenas explicou que havia utilizado duas histórias diferentes para justificar sua viagem à Libéria, um país africano então destroçado por uma guerra civil e que descreveu como "um buraco".

Às autoridades liberianas, Breivik disse que estava em missão pelo Unicef, e para isso encheu uma de suas malas com folhetos roubados na sede desta entidade na Noruega.

Aos seus contatos africanos, explicou que estava em uma viagem de negócios ligada ao comércio de diamantes.

[SAIBAMAIS] A maioria dos familiares de vítimas se pronunciou nesta quarta-feira a favor de que Breivik possa falar pelo tempo que desejar, embora seja doloroso justificar sua matança.

"Ele pode falar à vontade, e isso é importante para que o tribunal saiba quem ele verdadeiramente é, por que e como se radicalizou para se transformar em um terrorista", disse à AFP Trond Henry Blattmann, o presidente do grupo de apoio às famílias das 77 vítimas.

No dia 22 de julho de 2011, Breivik explodiu uma poderosa bomba em frente a uma das sedes do governo norueguês (em frente ao gabinete do primeiro-ministro), provocando a morte de oito pessoas.

Pouco mais tarde, vestido de policial, disparou a sangue frio por mais de uma hora contra membros da juventude do partido social-democrata reunidos em um acampamento de verão na ilha de Utoeya, perto de Oslo, matando outras 69 pessoas, em sua maioria adolescentes.

Breivik se declarou inocente, embora permaneça um enorme ponto de interrogação sobre todo o processo devido a sua saúde mental.