Oslo - O extremista de direita Anders Behring Breivik declarou, nesta terça-feira (17/4), à corte que o julga pelo assassinato de 77 pessoas, que agiu para defender o povo norueguês das ameaças do crescente multiculturalismo.
Em um discurso de uma hora no primeiro dia de seu depoimento, ele descreveu o ataque com um carro-bomba e o tiroteio deliberado de 22 de julho do ano passado como um ato de sacrifício próprio e se comparou com os americanos que decidiram bombardear o Japão na Segunda Guerra Mundial.
"Pessoas que me chamam de diabólico não entendem a diferença entre maldade e brutalidade", disse, acrescentando que a decisão de atingir o Japão com bombas atômicas foi, assim como sua carnificina, baseada em "boas intenções".
O assassino confesso, de 33 anos, também construiu paralelos entre os chefes de tribos nativas americanas Touro Sentado e Cavalo Louco, afirmando que eles eram exemplos daqueles que lutam por seu povo. "Eram terroristas... ou heróis?", questionou.
Com uma voz calma e clara, apresentou sua ideologia islamofóbica e contrária à imigração, descrevendo Oslo como "um inferno multicultural".
"Cristãos hoje são uma minoria perseguida", declarou, enquanto "rios de sangue causados pelos muçulmanos" correm atualmente pelas cidades europeias, citando Madri, Londres e Toulouse, alvos de ataques de extremistas islâmicos.
A juíza Wenche Elizabeth Arntzen pediu diversas vezes que terminasse seu discurso após ele ter excedido seus 30 minutos.
O atirador recebeu permissão para comparecer ao tribunal com um texto preparado, que apresentou por ter considerado necessário apresentar o quadro do seu caso e ir contra "a propaganda enganosa" apresentada pela mídia.
Ele disse ter atenuado sua retórica em consideração aos sobreviventes e familiares das vítimas, mas a juíza precisou lembrá-lo diversas vezes de seu juramento.
O advogado dos sobreviventes e de familiares das vítimas se opôs em certo ponto, dizendo ao tribunal que muitos eram contra essa apresentação metódica do que Breivik denominava "os fatos".
Veículos de televisão e rádio foram proibidos de transmitir ao vivo suas palavras, com a preocupação de que ele usaria essa exposição como forma de pregar sua ideologia.
"O multiculturalismo é uma ideologia autodestrutiva", alegou Breivik, demonstrando desprezo pela generosa política da Noruega em relação aos imigrantes, que, segundo ele, iria transformar os noruegueses em uma minoria em seu próprio país.
"Restarão apenas sushi e telas planas", concluiu Breivik.
Ele usou o pronome "nós" em seu discurso, dando a impressão de que é apenas membro de um grupo maior e mencionando frequentemente estatísticas e estudos.
"Nós não aceitamos... que sejamos transformados em uma minoria em nosso próprio país", anunciou.
Insistindo que seus ataques foram preventivos, ele pediu por absolvição, embora dissesse não ter medo de ir para a prisão, e sim que representaria "a maior honra".
"Eu cresci em uma prisão", onde a elite multicultural conduzia uma "doutrinação" nas escolas para manter sua "diabólica" ideologia.
"Nessa prisão, você não pode protestar... Essa prisão se chama Noruega", disse à corte.
Ele argumentou que multiculturalistas tiveram todo o poder e não há espaço para "militantes nacionalistas" como ele para disseminar sua visão em paz.
"Quando uma revolução pacífica é impossível, a única opção é uma revolução violenta", afirmou.
Breivik, que cresceu na região mais rica da capital norueguesa disse à corte: "Eu nasci e fui criado em uma zona de conflito", insistindo que certas partes de Oslo se tornaram "zonas intransponíveis para qualquer um que não os muçulmanos".
"Culturas agressivas... como o Islã vão crescer... agressivas como um câncer", disse.
Em 22 de julho, Breivik matou oito pessoas com uma bomba que foi armada em uma van estacionada no centro de Oslo antes de se dirigir para a ilha de Utoeya, onde, usando uma farda policial, atirou metodicamente por mais de uma hora em centenas de pessoas que estavam em um acampamento de verão de jovens do Partido Trabalhista.
Breivik disse ser necessário que ele atacasse o Partido Trabalhista e sua ala jovem (AUF) para mudar as políticas multiculturais do partido e evitar uma guerra.
Ele comparou a AUF à Juventude Hitlerista, alegando que esse alvo foi escolhido por que "muitos jovens da AUF são ingênuos e doutrinados".
"Essas não são crianças inocentes, mas ativistas políticos", argumentou Breivik, enquanto sobreviventes e familiares das vítimas ficaram impacientes para que ele terminasse seu testemunho.
Breivik descreveu seus ataques como "a mais espetacular operação conduzida por uma militante nacionalista desse século".
"Tudo está revirado - a mídia norueguesa... decidiu que os bons são os maus e os maus são os bons", lamentou.