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Fotógrafo ganha prêmio Pulitzer com foto comovente tirada em Cabul

Nova York - A agência de notícias France Presse ganhou seu primeiro Pulitzer nesta segunda-feira (16/4) na categoria "Foto Últimas Notícias", com a imagem comovente de uma menina que grita horrorizada logo depois de um ataque suicida num templo xiita, lotado de pessoas em Cabul. A fotografia foi assinada pelo afegão Massoud Hossaini, de 30 anos.

A imagem da criança afegã, de pé em meio a uma pilha de corpos, transmitiu a ideia da devastação logo depois da ação num local, cheio de fiéis.

O presidente da France Presse (AFP), Emmanuel Hoog, disse que o prêmio "mostra até que ponto a exigência de qualidade e de compromisso" da agência "cobre e deve cobrir todas as disciplinas do talento jornalístico".

"Hoje em dia, no campo da informação, o texto sem imagem é pobre, e a imagem sem texto é insuficiente. A união de ambos - com imagens fixas ou animadas - constitui a exigência jornalística do século XXI".

Hosseini trabalha para a AFP desde 2007, e estava a poucos metros do local quando explodiu uma bomba, no dia 6 de dezembro do ano passado, matando pelo menos 70 pessoas.

O próprio fotógrafo relatou o acontecimento, pouco depois em entrevista à AFP.

"Estava com minha câmara quando, de repente, ouvi a explosão", disse. "Por um momento não entendi o que acontecia, só senti a onda da detonação como uma dor em meu corpo. Caí no chão".

"Vi as pessoas correndo, afastando-se da fumaça. Sentei-me e vi que minha mão sangrando".

"Meu trabalho é documentar os fatos, pelo que corri no sentido contrário das pessoas", continuou Hosseini. "Quando a fumaça se dissipou, vi que estava no meio de um círculo de corpos".

"Só conseguia chorar e tirar fotos da desolação à minha volta".

"Não pude ajudar ninguém, realmente estava em estado do choque. Só sabia que precisava registrar tudo isso, toda essa dor, as pessoas correndo, chorando, batendo no peito e gritando: Morte à Al-Qaeda, morte ao Talibã".

Depois, olhei para a direita e vi uma menina, Tarana Akbari, de entre 10 e 12 anos, que gritava de terror com a roupa manchada de sangue e as mãos abertas, em sinal de impotência e desespero. Estava cercada de corpos.

"Ao ver o que tinha acontecido com seus irmãos, primos, tios, mãe, avó, e a todos a seu redor, só conseguia gritar".

"Consegui capturar, então, esta reação horrorizada", disse o fotógrafo.

A própria Tarana, que foi depois ouvida por jornalidas da AFP, contou que "quando consegui me levantar, vi as pessoas em volta, atiradas no chão, cobertas de sangue. Estava muito, muito aterrorizada".

Na entrevista que concedeu no dia 12 de dezembro, a menina afegã lembrou que, no dia, foi com 16 parentes ver as manifestações do Ashura, uma das festas sagradas xiitas, culto professado por sua família. Pôs o melhor vestido, de um verde brilhante.

Tarana (;melodia; em persa) foi ferida levemente na perna. Sete pessoas de sua família morreram, entre elas seu irmão mais novo Shoaib, de sete anos. Ficaram feridas a mãe e as irmãs Sunita, de 15 anos, e Sweeta, de cuatro. O pai tinha deixado a cidade, para um trabalho.