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Cúpula evidencia diferenças entre latinos-americanos e Washington

Cartagena - A VI Cúpula das Américas, que terminou domingo em Cartagena, evidenciou as divergências que persistem entre os latino-americanos e Washington, apesar da busca por parte do presidente Barack Obama de uma nova forma de dialogar com a região, segundo analistas.

Obama, que participava de sua segunda cúpula com os latino-americanos, depois da de Puerto España de 2009, passou dois dias na Colômbia, gesto que seu anfitrião, o presidente Juan Manuel Santos, agradeceu e destacou como um bom sinal não apenas para seu próprio país, mas também para toda a América Latina.

"O presidente Obama esteve aqui duas noites dedicado a discutir todos os problemas com franqueza, com respeito e cordialidade. Não houve nenhum tema vetado e a América Latina e o Caribe apreciaram isso de uma forma muito especial", comentou Santos.

Temas como a participação de Cuba nestas cúpulas ou a defesa da soberania argentina sobre as Ilhas Malvinas, contudo, apoiados pelo grupo dos latino-americanos, mostraram as profundas divergências com os Estados Unidos e impediram a assinatura de uma declaração final.

"Os Estados Unidos estão tentando encontrar uma nova maneira de dialogar com América Latina. Mas não saímos (da cúpula) com evidência futura alguma de uma grande transformação. Há uma busca de um novo tipo das relações, mas sem resultados concretos ainda", disse Maurício Santoro, especialista em Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro.

O fato de Obama ter escutado pacientemente todos os presidentes reunidos em Cartagena "é importante simbolicamente, destaca uma nova disposição. Mas tem o desafio de mostrar que vai haver uma mudança, que os pedidos não apenas vão ser ouvido, mas também levados em consideração", acrescentou Santoro.

Para Fernando Giraldo, cientista político da Universidade Javeriana de Bogotá, a Cúpula de Cartagena mostrou "uma América Latina muito mais distante em relação a Washington, mais autônoma e mais independente" que no passado.

"Os Estados Unidos não têm, frente aos latino-americanos, a mesma posição de força de antes, e cabe a ele se colocar em um plano mais horizontal. Mas em alguns temas continua atuando da mesma forma, com o veto a Cuba e o silêncio que guarda sobre Malvinas", opinou Giraldo.

Sobre Cuba, Obama, a sete meses das eleições presidenciais, se limitou a expressar novamente seu desejo de uma mudança democrática na ilha, sem ceder aos reiterados pedidos de seus homólogos latino-americanos para permitir sua participação na próxima Cúpula do Panamá em 2015.

"Cuba, ao contrário de outros países que participam (nas cúpulas das Américas), não avançou rumo à democracia" e "ainda não respeita direitos humanos básicos", disse Obama, quando consultado sobre o veto americano à participação de Havana em futuras cúpulas.

A inclusão de Cuba nestas cúpulas, para as quais nunca foi convidada, é pedida pelos latino-americanos desde a cúpula anterior de Puerto España em 2009, a partir da qual a Organização dos Estados Americanos (OEA) concordou em suspender a suspensão imposta em 1962, em plena Guerra Fria.

A falta de convite para Cuba levou o presidente do Equador, Rafael Correa, a cancelar sua participação na Cúpula de Cartagena e aos países da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América a anunciar que não participarão da próxima cúpula se Cuba não for também.

A ALBA é formada por Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua, Cuba, Antigua e Barbuda e São Vicente e Granadinas.

"Essa posição enfatizou que o sistema interamericano deve ser reestruturado e esse pedido não se limita à presença física de Cuba, mas sim à busca do fim da hegemonia que os Estados Unidos exerceram no continente", disse à AFP Vicente Torrijos, especialista em relações internacionais da Universidade do Rosário em Bogotá.

"A ALBA conseguiu impor o tema de Cuba, e nesta cúpula vimos Obama na defensiva frente a uma corrente de opinião avassaladora", concluiu.Com essas posições, a de Cartagena poderia ser a última Cúpula das Américas.

Segundo Riordan Roett, diretor do programa para a América Latina da Universidade americana Johns Hopkins "não existe nenhuma possibilidade de que um presidente dos Estados Unidos participe de uma cúpula enquanto os Castro estiverem vivos e não haja uma transição democrática".