Jornal Correio Braziliense

Mundo

Suicídio de aposentado desesperado com a crise econômica comove a Grécia

Atenas - O farmacêutico aposentado que comoveu a Grécia ao cometer suicídio com um tiro na praça mais movimentada de Atenas, em protesto pela crise econômica do país, deixou um bilhete de despedida no qual lamenta a pobreza e a falta de esperança que vive seu país. O idoso de 77 anos, que se matou sob uma árvore na Praça Syntagma na manhã de quarta-feira (4/4), a apenas 100 metros do Parlamento, afirma, em seu bilhete, que a austeridade do governo acabou com sua pensão e o deixou na mais completa penúria. Ele também comparou o governo, que está implementando medidas econômicas impopulares em troca de empréstimos da UE-FMI, ao regime imposto pelas forças nazistas de ocupação em 1941.

[SAIBAMAIS]Dezenas de milhares de gregos perderam os empregos no último ano. A taxa de desemprego atinge quase 25% da força de trabalho do país. Elas depositaram flores, velas e mensagens na árvore em que o idoso cometeu suicídio. Algumas cartas deixadas no local convocavam uma "revolta do povo". Um grupo de 50 jovens entrou em conflito com a polícia. Os manifestantes jogaram pedras nos agentes, que responderam com bombas de gás lacrimogêneo durante uma tentativa de invasão a um hotel de luxo. Pelo menos dois jornalistas foram algemados na confusão, apesar das tentativas de identificação. A emissora exibiu imagens de uma jornalista sendo empurrada para o chão e a tentativa de agressão contra a repórter de um policial.

As autoridades aplicam um rígido plano econômico desde 2010, quando a Grécia foi obrigada a recorrer à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional por empréstimos de resgate, depois que os juros dos empréstimos atingiram o teto. Para assegurar os empréstimos, a Grécia foi obrigada a cortar de maneira drástica os gastos estatais e reduziu os salários de funcionários civis e pensionistas em mais de 40%. A Praça Syntagma é cenário há dois anos de protestos contra as medidas de austeridade, que pretendem retirar a Grécia da crise fiscal.

A Grécia tem uma taxa de suicídios abaixo da média da UE, mas os casos aumentaram após dois anos de severa austeridade. O jornal Ta Nea informou que mais de 450 pessoas cometeram suicídio no país em 2011 e outras 600 fizeram tentativas frustradas, mas não atribuiu todos os casos à crise econômica. A morte do aposentado aconteceu um mês antes das eleições parlamentares.