Villavicencio - A guerrilha das Farc entregou nesta segunda-feira (2/4) os últimos 10 militares e policiais que mantinha em seu poder a uma missão do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e do coletivo Colombianos e Colombianas pela Paz.
O helicóptero com seis policiais e quatro militares libertados nesta segunda-feira pela guerrilha das Farc chegou na tarde desta segunda-feira ao aeroporto de Villavicencio (110 km ao sul de Bogotá).
Os 10 homens foram recebidos na pista por uma equipe médica e logo em seguida encontraram seus familiares em um salão privado. O grupo estava sorridente, usava uniformes e um deles portava uma bandeira colombiana.
Posteriormente, os ex-reféns serão levados de avião a Bogotá para um exame hospitalar.
O grupo é integrado pelos militares Luis Alfonso Beltrán, Luis Arturo Arcia, Luis Alfredo Moreno e Robinson Salcedo; e pelos policiais César Augusto Lasso, José Libardo Forero, Wilson Rojas Medina, Jorge Romero, Carlos José Duarte e Jorge Trujillo.
Todos eles foram capturados em quatro ataques da guerrilha, praticados entre 1998 e 1999.
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, qualificou de "passo muito importante e na direção correta" a libertação dos reféns, mas advertiu que "não é suficiente" e pediu a entrega dos civis cativos.
"O compromisso das Farc de não voltar a sequestrar é um gesto que valorizamos. Sem dúvida é um passo na direção correta, um passo muito importante, mas não é o suficiente", disse Santos.
A ex-senadora colombiana Piedad Córdoba, facilitadora da entrega, escreveu em sua conta do Twitter pouco antes da aterrissagem em Villavicencio: "cantamos todos cheios de emoção no helicóptero".
Os reféns foram libertados em uma zona rural entre os limites dos departamentos de Meta e Guaviare, de uma só vez. Previa-se, antes, que a operação de resgate fosse efetuada em duas jornadas, entre esta segunda-feira e a quarta-feira próxima. Os militares e policiais estiveram em poder do grupo armado entre 12 e 14 anos.
"A decisão de entregá-los todos, de uma só vez, partiu das Farc, pelo que agradecemos, em nome das famílias", disse à imprensa o representante do CICV na Colômbia, o espanhol Jordi Raich.
Os dez eram os últimos reféns militares e policiais mantidos em cativeiro pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), informou a própria guerrilha, embora a polícia colombiana denuncie que ainda não tem notícias de dois de seus homens, também sequestrados.
Para a operação de libertação foram suspensas todas as ações das forças militares na zona.
"Este foi o melhor presente, a melhor surpresa, e espero apresentá-lo a Ana María, sua neta. Agora, só quero abraçá-lo com todo o meu coração e será uma oportunidade para minha filha conhecer um homem grandioso, valente e um incansável lutador", disse Jennifer, filha do policial Carlos José Duarte.
Carlos Andrés, outro filho de Duarte, que tem agora 13 anos, disse que "quando a guerrilha o levou tinha apenas dois meses. Sempre me falaram dele, me mostraram suas fotos. Ele esteve sempre em minha vida, apesar de só hoje poder voltar a vê-lo".
Desde 2008, a ex-senadora Piedad Córdoba, líder de Colombianos e Colombianas pela Paz, vem mediando a libertação de 20 reféns políticos ou policiais e militares, que as Farc mantinha em seu poder, para poder trocá-los por centenas de guerrilheiros presos.
Outros reféns políticos ou da força pública foram resgatados anteriormente em operações militares, entre eles a ex-candidata presidencial de nacionalidades colombiana e francesa, Ingrid Betancourt, em 2008. Outros conseguiram fugir e alguns morreram em cativeiro.
Para Villavicencio também foram a guatemalteca Rigoberta Menchú, Prêmio Nobel da Paz; a ativista mexicana pelos direitos humanos Margarita Zapata e a argentina Mirta Acuña, fundadora da organização Mães da Praça de Maio, convidadas pelo coletivo Colombianos e Colombianas pela Paz.
As Farc são a principal guerrilha da Colômbia, com 9 mil combatentes e quase meio século de luta armada, segundo cálculos oficiais.
Recentemente, as Farc, que prometeram cessar com o sequestro de civis para exigir resgate, se dispuseram a um diálogo com o governo do presidente Juan Manuel Santos.
O presidente exige da guerrilha, como passo inicial, o fim dos sequestros, dos atentados e do recrutamento de menores.