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Governo sírio clama vitória, mas os combates prosseguem

Damasco - O regime sírio afirmou que ganhou definitivamente a batalha contra a oposição e os rebeldes, mas suas tropas seguiam bombardeando neste sábado várias cidades e travando violentos combates perto de Damasco e no sul do país.

O anúncio de Damasco ocorre um dia antes da reunião dos "Amigos da Síria" em Istambul, onde os representantes de mais de 70 países devem "aumentar a pressão" sobre o regime do presidente sírio Bashar al-Assad, que reprime de forma sangrenta os protestos há mais de um ano.

"A batalha para fazer o Estado da Síria cair já terminou e começou outra batalha, a da consolidação da estabilidade e da construção da nova Síria", afirmou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Jihad Makdessi, citado pela agência oficial Sana.

Mas, neste sábado, o exército seguia bombardeando o bairro de Khaldiyé "com um foguete por minuto em média" em Homs (centro), terceira maior cidade do país e onde estão entrincheirados os rebeldes, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Ao menos sete pessoas, em sua maioria civis, morreram neste sábado na Síria, onde as forças do regime dispararam contra os participantes no funeral de manifestantes mortos na véspera em Damasco, de acordo com o OSDH.

Violentos combates entre exército e rebeldes seguiam também desde a madrugada perto de Damasco e na província de Deraa (sul), segundo o OSDH.

O porta-voz da chancelaria afirmou que o exército sírio se retirará das zonas residenciais quando a segurança e a paz civil forem restabelecidas, assegurando que os soldados só "se defendem e protegem os cidadãos, que são reféns na maioria das vezes".

"O exército não está satisfeito por estar presente nas zonas residenciais e deixará estes locais quando forem estabelecidas a segurança e a paz civil", indicou Makdessi.

As tropas sírias, de longe melhor equipadas e com mais homens que os rebeldes, estão mobilizadas de forma massiva em todo o país, onde bombardeiam sem descanso os redutos de resistência, deixando dezenas de vítimas diárias. Cerca de 10 mil pessoas, em sua maioria civis, morreram em um ano de violência, segundo a OSDH.

A violência prossegue, apesar do anúncio de aceitação pelo regime do plano elaborado pelo emissário da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, que defende o fim da violência armada por todas as partes, sob supervisão da ONU, o fornecimento de ajuda humanitária e a libertação de pessoas detidas de forma arbitrária.

Representantes de mais de 70 países "Amigos da Síria" são esperados no domingo em Istambul para aumentar a pressão sobre o regime e fazer a implementação do plano Annan avançar.

Os chefes da diplomacia dos Estados Unidos, as principais potências europeias e a maioria dos países da Liga Árabe participarão desta segunda conferência dos "Amigos da Síria", onde a oposição será representada por sua principal coalizão, o Conselho Nacional Sírio (CNS).

Rússia e China, que são os dois principais apoios do regime sírio e bloquearam resoluções do Conselho de Segurança da ONU sobre a Síria, rejeitaram o convite.

Para preparar a reunião, a secretária americana de Estado, Hillary Clinton, viajou a Riad para conversar com rei Abdullah e com seu homólogo saudita Saul al-Faysal sobre os esforços internacionais "para pôr fim ao banho de sangue na Síria".