Havana - O Papa Bento XVI celebrou nesta quarta-feira (28/3) missa para milhares de pessoas na Praça da Revolução, em Havana, na qual pediu a Cuba que continue ampliando o espaço para a ação da Igreja Católica, horas antes do encontro previsto com o líder histórico Fidel Castro.
"Reconhecemos com alegria que, em Cuba, estão sendo dados passos para que a Igreja realize sua missão ineludível de expressar pública e abertamente sua fé", afirmou o Papa na homilia ante 500 mil cubanos congregados na praça, que é local de grandes manifestações comunistas.
"Para poder exercer esta tarefa, a Igreja há de contar com a essencial liberdade religiosa", enfatizou.
"É preciso seguir adiante, e desejo estimular as instâncias governamentais da nação a reforçar o já alcançado e a avançar por este caminho de genuíno serviço ao bem comum de toda a sociedade cubana", acrescentou o Papa na segunda missa que celebra na ilha, na presença de Raúl Castro e do chanceler Bruno Rodríguez.
O Papa disse que a Igreja busca dar seu testemunho não apenas nas catequeses, como também no âmbito escolar e universitário. As escolas católicas e todos os colégios particulares foram estatizados depois da chegada de Fidel Castro ao poder em 1959.
"Ela (a Igreja) busca transmitir este testemunho em sua pregação e ensino, tanto na catequese como nos âmbitos escolares e universitários. É de se esperar que logo chegue aqui também o momento em que a Igreja possa levar aos campos do saber os benefícios da missão que o Senhor encomendou e da qual nunca pode descuidar", afirmou o Papa.
Além de agradecer a Deus, "que nos reúne nesta emblemática praça", o pontífice disse que "a verdade é um anseio do ser humano, e buscá-la sempre supõe um exercício de autêntica liberdade".
No início da missa, o cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana, fez um apelo à "paz e reconciliação" entre os cubanos. No ofício estavam presentes centenas de peregrinos cubanos procedentes de Miami, reduto do anticastrismo.
"Nosso povo implora a sua Santidade que inclua em sua oração esses dons do alto necessário para que reine entre todos os cubanos o amor e o perdão e se faça verdade a reconciliação e a paz", afirmou Ortega, que promove o diálogo instalado em 2010 com o governo de Raúl Castro.
O Papa evocou na missa o exemplo do sacerdote e intelectual Félix Varela (1788-1853), "filho ilustre desta cidade de Havana, que passou para a história de Cuba como o primeiro a ensinar seu povo a pensar".
Os católicos cubanos esperam que Bento XVI declare Varela "venerável", na primeira etapa para a canonização de um escravo que participou na luta contra a escravidão e o colonialismo espanhol.
Quanto ao tema dos presos políticos, muito sensível na ilha, o Vaticano não programou nenhuma declaração ou reunião com familiares, o que constituiu uma grande decepção para os círculos opositores.
Bento XVI chegou à praça no "papamóvel" branco, com as janelas abertas, cercado por vários agentes de segurança.
Em 1998, nesse mesmo lugar, na presença de Fidel Castro, João Paulo II, o primeiro Papa a visitar a ilha, celebrou uma histórica missa em que pediu que "Cuba se abra para o mundo para que o mundo se abra para Cuba".
O pontífice, de 84 anos, foi ouvido sob um sol radiante por meio milhão de fiéis, assim como ateus, comunistas e adeptos da santeria, rito afrocubano que mistura espiritualismo africano com o catolicismo.
Logo cedo, cubanos católicos partiram da Catedral de Havana em uma procissão com a imagem da Virgem da Caridade do Cobre até a Praça da Revolução. A imagem iluminada da Virgem, conhecida como "Mambisa", foi saudada com aplausos pelas ruas de Havana.
As procissões religiosas estavam proibidas em Cuba desde os anos 60 pelo então governo ateu de Fidel Castro até que foram restituídas pelo líder da Revolução durante a visita do Papa João Paulo II em 1998. O Estado cubano deixou o ateísmo em 1991 e passou a ser simplesmente laico.
Já a Anistia Internacional denunciou nesta quarta-feira um aumento da perseguição contra os ativistas pró-direitos humanos em Cuba para "silenciá-los" durante a visita de Bento XVI, e pediu ao Papa que condene a falta de liberdade na ilha.
A organização de defesa dos direitos humanos assinalou que as autoridades cubanas prenderam nos últimos dias dezenas de ativistas e críticos do governo ou cortaram suas linhas telefônicas, entre outras medidas para impedir que denunciem os abusos.
"O bloqueio das comunicações e a prisão de 150 opositores políticos é um exemplo a mais de como as autoridades cubanas ignoram completamente os direitos humanos", afirmou Javier Zúñiga, conselheiro especial da Anistia em um comunicado.
"Ante esta situação, o Papa deve tomar uma posição e emprestar sua voz aos que ficaram sem ela devido à repressão em curso, e condenar a falta de liberdade em Cuba", acrescentou.
A Anistia também pediu às autoridades da ilha que ponham fim aos abusos.