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Estados Unidos e Rússia apoiam plano de Kofi Annan sobre a Síria

Damasco - O Exército sírio bombardeou nesta segunda-feira (26/3) os bairros de Homs, um dia depois de a Rússia, aliada do regime, ter assegurado seu apoio total ao plano de Kofi Annan destinado a por fim à violência, mais de um ano após o início da sangrenta repressão da revolta popular. O presidente americano, Barack Obama, e o homólogo russo Dmitri Medvedev expressaram seu apoio aos esforços de Kofi Annan, emissário da ONU e da Liga Árabe, para por fim à violência. Obama informou que o objetivo final era um poder legítimo na Síria.

No entanto, o presidente americano se referiu às diferenças persistentes em relação à Síria de Bashar al-Assad, da qual a Rússia é aliada e fornecedora de armas desde a época soviética. O plano de Annan propõe o fim de todas as formas de violência sob supervisão da ONU, a entrega de ajuda humanitária e a libertação das pessoas detidas de maneira arbitrária.

Recentemente, Rússia e China votaram a favor de uma declaração na ONU apoiando a missão de Annan, depois de terem bloqueado duas resoluções condenando a repressão a um movimento de contestação que já dura mais de um ano, tendo deixado mais de 9.100 mortos, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Annan iniciou um giro para tentar convencer ambas as potências, que possuem direito de veto no Conselho de Segurança da ONU, para que pressionem seu aliado sírio. Depois de ter se reunido com o presidente russo, Annan é esperado na terça-feira em Pequim. A China diz esperar "discussões em profundidade sobre um acordo político" da crise síria.

No local, o poder de Damasco prosseguia com sua repressão em várias cidades rebeldes para tentar sufocar a revolta. O Exército bombardeou na manhã desta segunda-feira o bairro de Jaldiyé em Homs, no centro da Síria, depois de manifestações noturnas em todo o país, segundo os militantes.

Os obuses que caíram sobre Jaldiyé, bombardeada há uma semana, provocaram incêndios, informaram os Comitês Locais de Coordenação (LCC), que coordenam os protestos no local. Em Hama (centro), muitos moradores protestaram em vários bairros na noite de domingo para denunciar as incursões do exército, segundo militantes locais.

Também durante a noite ocorreram manifestações em Damasco e em Aleppo (norte) e nas regiões vizinhas a esta cidade, em apoio aos desertores do Exército Sírio Livre (ESL) e para exigir a queda do regime de Bashar al-Assad. Seis soldados ficaram feridos em confrontos com desertores perto da fronteira turca, segundo o OSDH.

No momento em que se aproxima a reunião dos países amigos da Síria, no dia 1; de abril em Istambul, o Conselho Nacional Sírio (CNS), principal coalizão da oposição, pediu que diversos grupos e personalidades hostis ao regime se reúnam nesta segunda e na terça-feira para tentar formar uma frente unida nesta cidade turca.

Alguns se recusaram a participar, e a fragmentação da oposição provoca temores na comunidade internacional, que hesita em conceder uma ajuda aos rebeldes. No sábado, o Exército Sírio Livre (ESL), constituído de desertores, anunciou ter se dotado de um Conselho Militar Unificado. Já a Irmandade Muçulmana síria, representada no CNS, anunciou no domingo em Istambul seus objetivos para a Síria depois da queda de Bashar al-Assad, pronunciando-se por um Estado laico, democrático e pluralista no qual o povo eleja nas urnas os dirigentes.

No nível diplomático, a Turquia fechou na segunda-feira sua embaixada em Damasco, devido a uma degradação das condições de segurança, seguindo assim o exemplo de vários países da União Europeia (Itália, Espanha, França, Reino Unido, Holanda), Estados Unidos e das seis monarquias do Golfo.

O regime libertou no domingo dois militantes sírios: Bahraa Abdennabi Hijazi, diretora de curtas-metragens e documentários, cujo pai é um famoso escritor e jornalista na Síria, e Anas Abdessalam, militante dos direitos humanos, detidos há 53 dias por terem participado de manifestações hostis ao regime, anunciou o advogado Muchel Chammas.

A Anistia Internacional disse ter obtido de militantes locais os nomes de mais de 18 mil pessoas detidas na Síria, considerando que isto constitui "menos da metade do número real" de prisioneiros.