Montevidéu - O Uruguai inaugurou nesta quarta-feira (21/3) uma placa em memória dos detidos e desaparecidos durante a ditadura (1973-1985), acatando uma sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos (IDH) pelo desaparecimento da nora do poeta argentino Juan Gelman.
Nesta tarde, o presidente uruguaio, José Mujica, fará um discurso no Palácio Legislativo para aceitar a responsabilidade do estado no caso Gelman.
"Em memória de María Claudia García (...) e de todas as pessoas vítimas do terrorismo de Estado que foram privadas de sua liberdade neste lugar, sede do Serviço de Informação de Defesa (SID) e centro clandestino de detenção", indica a placa. María Claudia García, nora de Gelman, foi sequestrada em Buenos Aires em 1976 e levada ao Uruguai grávida e, logo depois de dar à luz uma menina, foi assassinada em Montevidéu.
A menina, Macarena, foi entregue de forma ilegal à família de um policial uruguaio e conheceu recentemente sua origem, em 2000, sem que os restos mortais de sua mãe tivessem sido encontrados. Ambos, Macarena e Juan Gelman, entraram com uma ação judicial contra o Estado uruguaio na Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Macarena estava à frente do ato junto com seu avô paterno e foi acompanhada pelo ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Luis Almagro, pelo chanceler argentino, Héctor Timerman, por familiares de detidos desaparecidos e por integrantes de organizações internacionais.
O edifício onde o ato foi realizado, um centro de detenção clandestino no passado, pertence atualmente ao Instituto Nacional de Direitos Humanos.
No ato, Juan Gelman leu um poema escrito por seu filho Marcelo, assassinado pela ditadura argentina cujo corpo foi identificado em 1989, que segundo o autor mostra que seu filho pressentia em parte como seria a sua história. "Hoje quero lhes dizer adeus, vou embora talvez hoje, talvez amanhã, mas vou, me despeço deste país, me despeço de meus amigos, de meus inimigos".
Em outubro o Parlamento aprovou um projeto de lei que declarou que os crimes cometidos na ditadura são crimes de lesa-humanidade e, portanto, não prescrevem. No mesmo dia, um juiz penal uruguaio condenou à prisão cinco militares aposentados pela morte de María Claudia García por homicídio agravado.
Os militares condenados - José Nino Gavazzo, José Ricardo Arab, Gilberto Vázquez, Jorge Silveira Quesada e Ricardo José Medina- já estão presos por outras causas.