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Justiça liberta os 13 opositores expulsos de templo católico em Cuba

Havana - Os 13 opositores cubanos expulsos pela polícia de um templo católico de Havana, que ocuparam durante 48 horas por demandas políticas diante da próxima visita do Papa Bento XVI a Cuba, foram liberados nesta sexta-feira (16/3) depois de serem fichados e advertidos de que desistam de novos protestos. [SAIBAMAIS]

A pedido do cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana, os 13 membros do ilegal Partido Republicano de Cuba, um grupo opositor desconhecido até agora, foram expulsos na quinta-feira (15/3) à noite da Basílica Menor de Nossa Senhora da Caridade, onde tinham entrado na terça-feira (13/3).

"Eles nos colocaram em dois ônibus e nos levarão para a delegacia de polícia da (esquina das ruas) Infanta e Manglar, onde colheram amostras de urina, suor, cabelo, impressões digitais, nos mediram e nos fotografaram", disse o líder da ocupação, Vladimir Calderón, à AFP. Os agentes "quiseram nos fazer assinar atas de advertências por usurpação e alteração da ordem, mas nós nos negamos", disse Calderón, informando que os 13 ativistas, entre eles cinco mulheres, foram libertados pouco depois.

No começo de março, o porta-voz do Arcebispado de Havana tinha alertado que a Igreja Católica - único interlocutor do governo de Raúl Castro - corria o "risco" de enfrentar pressões políticas diante da visita do Papa, de 26 a 28 de março.

Bento XVI chegará a ilha pelo México para a primeira visita papal a Cuba depois de João Paulo II em 1998, que marcou o fim de um distanciamento entre a Igreja e o governo comunista.

A ocupação do templo foi rejeitada pela Igreja e criticada por proeminentes dissidentes, alguns dos quais, contudo, atacaram o cardeal Ortega por solicitar a expulsão policial. Calderón disse que, durante a expulsão, os agentes "usaram a força com técnicas repressivas, técnicas de imobilização; a porta do templo foi aberta pelo pároco Roberto Betancourt e outro religioso".

O Arcebispado disse em um comunicado que o cardeal tinha pedido a retirada ao governo, depois de que suas tentativas de convencer os ativistas de saírem voluntariamente fracassarem.

O cardeal Ortega, que mantém um fluido diálogo com o governo de Raúl Castro desde maio de 2010, que permitiu a libertação de 130 presos políticos, foi criticado nesta sexta-feira (16/3) por dissidentes.

"Lamentavelmente o cardeal, na minha opinião, não deve pedir a expulsão de ninguém e menos de um templo, porque é a casa de Deus", disse a líder das Damas de Branco, Berta Soler, à AFP.

O Vaticano expressou nesta sexta-feira seu apoio à hierarquia católica cubana, que condenou a ocupação do templo.

"Parece-me que, inclusive nos setores da oposição, há opiniões contrárias (a dos ocupantes), que consideram que não é uma boa iniciativa", disse o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi.