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Presidente Assad anuncia eleições para maio; violência prossegue

Damasco - O presidente sírio Bashar al-Assad anunciou nesta terça-feira (13/3) a convocação de eleições legislativas para 7 de maio, no momento em que o emissário internacional Kofi Annan ainda aguarda uma resposta a suas "propostas concretas" para acabar com a violência, que provocou mais 34 mortes. [SAIBAMAIS] Ainda nesta terça (13/3), pelo menos 34 pessoas morreram em todo o país, em sua maioria soldados e membros das forças de segurança vítimas de ataques rebeldes, segundo o opositor Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). As legislativas, que deveriam ter acontecido em setembro de 2011, foram adiadas em consequência do processo de reformas anunciado por Assad em resposta ao início da revolta há um ano. Entre as reformas figuram uma nova lei de partidos e uma nova Constituição, que acaba com a supremacia do partido Baath. A nova lei fundamental foi submetida a um plebiscito em 27 de fevereiro, em um referendo chamado de "piada" por Washington. Numa primeira reação, os Estados Unidos classificaram de ridículo o anúncio feito pelo presidente sírio. "Eleições legislativas para um parlamento que não passa de uma caixa de ressonância, em meio à violência que vemos no país, é ridículo", declarou a porta-voz do departamento de Estado, Victoria Nuland. O anúncio foi feito no momento em que a comunidade internacional espera uma resposta do presidente sírio às "propostas concretas" apresentadas por Annan durante a missão em Damasco, no fim de semana passado. O emissário da ONU e da Liga Árabe destacou que suas conversações abordaram a necessidade de "interromper a violência e os assassinatos, garantir acesso às organizações humanitárias e o início de um diálogo". Nas últimas legislativas, em abril de 2007, uma coalizão de partidos liderada pelo Baath venceu, sem surpresas, a maioria das cadeiras. Nas cidades, as tropas do governo prosseguem em uma guerra sem trégua contra os insurgentes, com violentos combates em Idleb (noroeste), uma província montanhosa na fronteira com a Turquia, com o objetivo de asfixiar a rebelião. Na província de Deraa (sul), berço da revolta, 12 oficiais dos serviços de segurança morreram em uma emboscada perto da cidade de Dael, segundo o OSDH. Durante a madrugada, 10 soldados morreram em um ataque perto da sede do Baath na cidade de Maaret al-Nooman, na província de Idleb. A cidade de Idleb continua cercada. O Exército controla apenas uma parte dos bairros e os militantes denunciam uma situação humanitária insustentável ante a falta total de água e energia elétrica, com as comunicações cortadas. Na segunda-feira (12/3), a violência deixou mais de 30 mortos, em um dia marcado pela descoberta de 47 corpos mulheres e crianças carbonizadas, degoladas ou esfaqueadas na cidade de Homs. Os militantes denunciaram o massacre e o atribuíram às forças governamentais, enquanto a imprensa estatal acusou "grupos terroristas". Depois da descoberta macabra, os Comitês Locais de Coordenação (LCC), que estimulam a mobilização contra o regime, convocaram um dia de luto em todo o país. Em Genebra, a Alta Comissária Adjunta de Direitos Humanos, Kyung-wha Kang, anunciou o envio de observadores da ONU esta semana aos países vizinhos para coletar informações sobre "violações e atrocidades" cometidas no país. O Conselho de Direitos Humanos da ONU debate desde segunda-feira o segundo relatório da Comissão de Investigação Internacional sobre a Síria, presidida pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, que se declarou na segunda-feira favorável ao diálogo e contrário a uma intervenção militar. A organização Human Rights Watch acusou Damasco de instalar minas ao longo das fronteiras com o Líbano e a Turquia, nas estradas tomadas pelos refugiados que fogem do país. Ainda no campo diplomático, a Rússia afirmou que deseja convencer a Síria a aceitar observadores internacionais independentes que acompanhem o cessar simultâneo da violência das duas partes.