Damasco - O vice-ministro sírio do Petróleo, Abdo Hussameddine, anunciou sua renúncia nesta quarta-feira (7/3) para se unir à oposição, iniciativa considerada pelos Estados Unidos uma "notícia muito boa" caso seja confirmada.
"Eu, o engenheiro Abdo Hussameddine, vice-ministro do Petróleo anuncio minha demissão e me uno à revolução do povo que rejeita a injustiça e a campanha brutal do regime", declarou o vice-ministro, o mais alto dirigente a abandonar o regime sírio, em uma mensagem de vídeo postada no site Youtube, quase um ano depois do início da revolta contra o regime do presidente Bashar al-Assad.
Hussameddine, que para sua própria segurança passou à clandestinidade, pediu aos outros membros do governo que abandonem "um barco que afunda", dizendo que não deseja terminar sua vida "a serviço de um regime criminoso".
Burhan Ghalioun, chefe do Conselho Nacional Sírio (CNS, principal representação da oposição), festejou esta renúncia, clamando para que os membros e funcionários do governo façam o mesmo.
No vídeo, Abdo Hussameddine critica Rússia e China por não protegerem "o povo sírio, mas sim os assassinos do regime". A Rússia, que fornece armas para Damasco, e a China bloquearam em duas oportunidades resoluções da ONU condenando a repressão na Síria.
A porta-voz do Departamento de Estado americano, Victoria Nuland, considerou positiva a possibilidade de o alto funcionário sírio ter renunciado. "Neste momento, não estamos em condições de reconhecer a autenticidade do vídeo do YouTube" do vice-ministro sírio, explicou Nuland."Isto estaria absolutamente em concordância com o tipo de contatos que a secretária (de Estado Hillary Clinton) e o presidente (Barack Obama) têm feito com altos funcionários do regime (sírio) para que rompam suas relações com Assad", disse.
Nesta quinta-feira, a chefe de operações humanitárias das Nações Unidas, Valerie Amos, prosseguiu com a visita ao país para tentar conseguir o acesso sem obstáculos da ajuda humanitária para os civis. Amos e o Crescente Vermelho sírio foram autorizados na quarta-feira a entrar em Homs - incluindo o castigado distrito de Baba Amr - após a intensa pressão internacional para que fosse permitida uma visita guiada para que avaliasse os danos causados pela crise nesta cidade que se tornou símbolo da oposição.
A região se encontra completamente arrasada e sem habitantes, após um mês de intensos bombardeios com artilharia pesada, segundo a ONU. Amos permanecerá até sexta-feira na Síria e o regime assegurou sua cooperação, mas já na quarta-feira não teve acesso a alguns bairros de Homs, onde podiam ser ouvidos tiros e explosões.
Uma reunião de coordenação da ajuda humanitária internacional foi iniciada nesta quinta-feira (8/3) em Genebra, para avaliar as necessidades e possibilidades de acesso.
O emissário da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Kofi Annan, pediu nesta quinta-feira (8/3) a cooperação da oposição síria na busca por uma solução para a crise no país, que enfrenta há um ano uma revolta popular reprimida pelo governo.
O secretário americano da Defesa, Leon Panetta, pediu prudência diplomática na Síria, assinalando que os esforços se concentram em soluções diplomáticas e políticas no lugar de uma intervenção militar.
Segundo o OSDH, a violência deixou 8.458 mortos desde o início da revolta ano passado na Síria, e a situação é cada vez mais preocupante.
Por ocasião do 49; aniversário da "revolução de 8 de março de 1963" , que levou ao poder o partido Baath, a liderança nacional deste partido advertiu para um "complô estrangeiro" de países árabes e ocidentais que "instrumentalizaram um levante popular pacífico".