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Após vitória de Putin, Kremlin ordena revisão do caso Khodorkovski

Moscou - Logo após a vitória de Vladimir Putin nas eleições presidenciais russas ser confirmada, o Kremlin ordenou, nesta segunda-feira (5/3), uma revisão do caso do ex-magnata do petróleo e crítico do governo, Mikhail Khodorkovski, notícia recebida com cautela pelos defensores do mais conhecido dos presos russos.

O presidente russo, Dmitri Medvedev, solicitou nesta segunda-feira ao promotor geral que "analise de agora até o dia 1; de abril os fundamentos" do veredicto em 32 processos, entre os quais o de MiKhail Khodorkovski e de seu principal sócio Platon Lebedev, presos desde 2003.

O presidente respondeu ao pedido da oposição que tinha transmitido uma lista de pessoas consideradas "presos políticos" durante um encontro dia 20 de fevereiro.

A libertação dos "presos políticos" era uma das exigências das grandes manifestações da oposição em Moscou depois das questionadas eleições legislativas do dia 4 de dezembro.

A decisão de Dmitri Medvedev foi divulgada um dia depois da vitória nas eleições presidenciais de Vladimir Putin, atual primeiro-ministro, ex-presidente e homem forte do país, e poucas horas antes de uma manifestação da oposição prevista para a tarde desta segunda-feira.

Khodorkovski foi condenado em dois processos sucessivos a 13 anos de prisão por fraude fiscal, lavagem e desvio de dinheiro, em um caso considerado por observadores como um acerto de contas entre o poder e o empresário que enfrentou o Kremlin e financiou a oposição.

Neste mesmo dia, os advogados de Khodorkovski se declararam céticos.

"Há grandes possibilidades de que esta decisão de Medvedev não seja mais do que formalidade sem efeito", declarou um de seus advogados, Yuri Chmidt.

"O caso Khodorkovski é da era Putin, é um prisioneiro de Putin. Se Putin não se manifestar (para que haja uma revisão do veredicto), a promotoria concluirá que o veredicto estava bem fundamentado", declarou.

No passado, Dmitri Medvedev e Vladimir Putin tinham declarado que não podiam examinar um pedido de perdão a favor de Khodorkovski sem que houvesse previamente um pedido por escrito do condenado.

Esta afirmação foi questionada pelos advogados de defesa que afirmaram que puderam conceder o perdão sem condição prévia.

Vladimir Putin, que já acusou Khodorkovski de "ter as mãos ensanguentadas" - acusação que nunca foi feita em esfera judicial - também declarou em dezembro que poderia examinar um pedido de perdão, se Khodorkovski aceitasse ser considerado culpado, o que ele rejeitou categoricamente.

Liudmila Alexeyeva, presidente do grupo Helsinki de Moscou, também manifestou "ter dúvidas em relação a uma libertação" de Khodorkovski, denunciando um "jogo político" após as eleições presidenciais.

"Tenho poucas esperanças. Medvedev está saindo, não se pode esperar que haja mudanças radicais", declarou Irina Yasina, diretora da fundação Rússia Aberta, fundada no começo dos anos 2000 por MiKhail Khodorkovski para ajudar no desenvolvimento da sociedade civil.

Para o analista político Igor Bunin, "o poder fez um gesto de boa vontade para acalmar a oposição".

"Medvedev quer terminar seu mandato com um bom gesto. Quanto a Putin, detesta Khodorkovski, mas nesta situação o cálculo político pode ser mais importante que as emoções", concluiu.