Cidade do Vaticano - O papa Bento XVI nomeou neste sábado(18/2) na Basílica de São Pedro 22 novos cardeais, entre eles um brasileiro, convocando-os a renunciar à "vida mundana do poder e da glória" depois das tensões que sacodem o Vaticano pelo clima de intrigas e suspeitas internas.
"O serviço a Deus e aos irmãos, o dom de si: esta é a lógica que a fé autêntica imprime e desenvolve em nossa vida cotidiana e que não é, por sua vez, o estilo mundano do poder e da glória", advertiu o Papa aos novos cardeais, entre eles o brasileiro João Braz de Aviz, arcebispo emérito de Brasília e único latino-americano entre os 22 nomeados.
"Pede-se que sirvam à Igreja com amor e vigor, com a transparência e sabedoria dos mestres, com a energia e a força dos pastores, com a fidelidade e o valor dos mártires", disse o pontífice.O Papa, que evitou explicitamente falar do mal-estar gerado em alguns setores católicos pela divulgação de notícias com cartas e documentos secretos internos sobre as intrigas e suspeitas dentro das instâncias do Vaticano, lembrou que tem a cargo "uma tarefa delicada".
Com suas vestes vermelhas, em homenagem ao cor do sangue derramado para defender a Igreja, os novos cardeais receberam emocionados o barrete vermelho cardinalício das mãos do pontífice durante a celebração, transmitida ao vivo pelos canais de televisão do Vaticano. A cerimônia foi acompanhada pelo primeiro-ministro italiano, Mario Monti, assim como por várias delegações estrangeiras, entre elas vários ministros da Espanha e do Brasil.
Cerimônia
O Papa entregou o chapéu (gallero) e o anel cardinalício - que simboliza a fidelidade à Igreja até o martírio - a 16 europeus, dois americanos, um canadense, um indiano e um chinês, além do brasileiro.Entre os designados estava o espanhol Santos Abril e Castello, de 76 anos, arcebispo da basílica romana de Santa María la Mayor, assim como os arcebispos de Nova York, Praga, Hong Kong e Toronto.
A decisão de nomear um número elevado de cardeais italianos, a maioria deles importantes funcionários da Cúria Romana, o governo central da Igreja, gerou críticas e debates. Não se descarta que o pontífice convoque outro consistório durante este ano, já que mais de dez cardeais superarão a fatídica idade de 80 anos, perdendo o direito de votar no conclave.
Um bom número de arcebispos a cargo de cidades importantes, entre elas Santiago do Chile, Bogotá, Los Angeles e Manila esperam a designação, já que o cargo costuma ser tradicionalmente ocupado por um cardeal. Com a chegada dos novos cardeais, o Colégio Cardinalício ficará formado por 213 deles, dos quais 125 com direito a votar em caso de eleição do Papa.
A América Latina, com 46% dos católicos do mundo, passa a contar com 32 cardeais, dos quais 22 são eleitores, entre eles seis brasileiros e quatro mexicanos. Os europeus continuam ostentando uma ampla maioria com 67 cardeais, entre eles seis alemães, cinco espanhóis, quatro franceses e quatro poloneses. A África conta com 11, a Ásia com 9 e a Oceania com um.
"Reconhecemos o valor da Europa, mas deve baixar seu olhar do alto e ser mais fraternal com os demais continentes", comentou à imprensa o novo cardeal brasileiro, Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos da Vida Consagrada. Na véspera, cerca de 150 cardeais do mundo inteiro se reuniram com o pontífice para falar dos desafios envolvidos em uma nova evangelização.