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Protestos contra regime sírio se alastram para Damasco e Aleppo

Beirute - Vários bairros de Damasco e de Aleppo, segunda maior cidade do país, realizaram nesta sexta-feira (17) manifestações inéditas, unindo-se às dezenas de milhares de pessoas que voltaram a pedir a queda do regime, que continuava em confronto com a revolta na cidade de Homs (centro).

Ao grito de "Fora" dirigido ao presidente Bashar al Assad, os manifestantes voltaram a desafiar a repressão do regime, qualificada como "atroz" pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, e pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron, e condenada na véspera pela Assembleia Geral da ONU.

Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), o balanço desta "sexta-feira de resistência popular" foi de 27 "mártires" civis mortos.

Dois destes civis, um deles criança, morreram ao serem atingidos pelos disparos das forças de segurança no bairro de Mazze, no oeste da capital, segundo uma ONG síria, que afirmou que várias dezenas de pessoas também ficaram feridas.

"É a primeira vez que as manifestações atingem os bairros chiques", disse à AFP Moaz Chami, dos Comitês Locais de Coordenação, que organizam a manifestação, sem dar mais detalhes.

Relativamente pouco afetada até agora pela resolta, a cidade de Aleppo (norte) também registrou nesta sexta-feira mobilizações em ao menos 12 de seus bairros, asim como no restante dessa província. "Liberdade para todos", gritaram os moradores da cidade de Kallassa.

"Não cederemos diante dos carros nem diante dos canhões e nós temos o povo, eles têm o exército", gritaram os opositores em Idleb, província do noroeste do país que viveu grandes protestos, assim como a província de Deraa (sul), onde uma pessoa morreu por disparos.

Os opositores do regime convocaram as manifestações alegando o "início de uma nova etapa" de seu movimento frente à repressão que provocou milhares de mortos desde o início da revolta em meados de março de 2011.

Treze dos civis mortos nesta sexta-feira morreram no bairro de Baba Amr, em Homs (centro), onde as ações militares governamentais se intensificaram.

"São os bombardeios mais violentos em 14 dias. É incrível, é de uma extrema violência, nunca vimos algo semelhante. Disparam uma média de quatro foguetes por minuto", afirmou Hadi Abdullah, membro da Comissão Geral da Revolução Síria.

Para este opositor, a aviação militar e os aviões de reconhecimento sobrevoavam Homs, em uma mobilização militar "sem precedentes".

Um vídeo divulgado pela oposição na internet mostra um tanque disparando contra as moradias, e em outro vídeo são escutados bombardeios intensos contra a cidade.

O restante dos civis morreu em Mezze, em Deraa (sul), em Deir Ezzor (leste), na região de Damasco e em Aleppo e sua província (norte), segundo o OSDH.

Na véspera, a Assembleia Geral da ONU aprovou, em Nova York, por ampla maioria, uma resolução que condena a repressão do regime do presidente sírio contra a população civil na Síria, apesar da rejeição de russos e chineses e dos membros da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América), liderados por Venezuela, Cuba, Bolivia e Ecuador.

A resolução, apresentada na Assembleia Geral menos de duas semanas após o veto da Rússia e da China e de uma iniciativa similar no Conselho de Segurança, foi aprovada por 137 votos a favor, 12 contra e 17 abstenções.

Mas, diferente do Conselho de Segurança, na Assembleia Geral das Nações Unidas não há direito a veto, embora ao mesmo tempo o texto aprovado não seja vinculante.

A proposta votada expressa a "grave preocupação" pela deterioração da situação na Síria e condena as "violações contínuas e sistemáticas dos direitos humanos e as liberdades fundamentais por parte das autoridades sírias".

Insiste, ainda, na necessidade de aplicar o plano proposto pela Liga Árabe, que impulsiona uma transição para um sistema democrático e pluripartidário, embora não mencione expressamente que Assad ceda seu cargo.

Tal como ocorreu no Conselho de Segurança, a Rússia teria exigido previamente à sua votação várias emendas ao projeto, entre elas apagar a lista de abusos cometidos por Damasco contra civis e exigir "o fim dos ataques por parte de grupos armados" da oposição síria.

Uma primeira resolução denunciando a situação na Síria havia sido adotada pela Assembleia Geral da ONU em 19 de dezembro passado por 133 votos a favor, 11 votos contra e 53 abstenções (entre eles Rússia e China).