Cairo - A "Primavera Árabe" entra em seu segundo ano, em meio a frágeis transições democráticas, vitórias eleitorais de islamitas e fortes tensões políticas e sociais, consideraram especialistas nesta sexta-feira (17/2). Da Tunísia ao Egito, passando por Síria e Iêmen, os levantes populares nesta região do mundo deram lugar a profundas mudanças, em contextos políticos, sociais e religiosos muito diferentes, segundo os países ou as regiões.
Para Antoine Basbous, que dirige em Paris o Observatório dos Países Árabes, "o primeiro ator da mudança é a juventude". No entanto, "seu primeiro beneficiário são os islamitas que estão bem estruturados e profundamente arraigados na sociedade, enquanto os jovens não tiveram tempo de se organizar", afirma.
Já Ibrahim Sharqieh, do centro de Doha do grupo de especialistas americano Brookings, adverte que tirar do poder ditadores como o tunisiano Zine El Abidine Ben Ali ou o egípcio Hosni Mubarak "talvez tenha sido a parte mais fácil da mudança. A transição em direção a uma sociedade democrática é muito mais complicada e aleatória que derrubar o regime", acrescenta.
Avanços na transição
A Tunísia, o primeiro país a se mobilizar contra o regime, em dezembro de 2010, parece ser hoje em dia o que mais avançou nesta transição, após realizar eleições em outubro de 2011 para constituir uma assembleia constituinte, na qual os islamitas do Ennahda obtiveram o primeiro lugar.
[SAIBAMAIS]No Egito, islamitas de diferentes tendências obtiveram uma ampla maioria nas eleições legislativas, mas militares questionados por militantes opositores seguem ocupando o poder, o que abriu espaço para confrontos que deixaram mortos. Estão previstas eleições presidenciais para maio ou junho.
Na Líbia, um ano depois do início do levante, em meados de fevereiro de 2011, contra o hoje falecido líder Muamar Kadhafi, as esperanças de um novo país estão "em perigo" pelas violações dos direitos humanos cometidas pelas milícias de ex-rebeldes com "total impunidade", lamentou a Anistia Internacional. Nabil Abdel Fattah, do centro de estudos Al-Ahram, no Cairo, afirma que "a situação crítica na Síria pode ter repercussões para a estabilidade de diversos países vizinhos, como Líbano, Israel, Iraque, Turquia ou Jordânia".
O especialista de Oriente Médio na Universidade de Georgetown, da cidade de Washington, Samer Sherata, afirma que "as revoluções não acabaram em nenhum dos países em que ocorreram". Neste contexto, para Sharqieh, o crescimento dos islamitas não constitui "uma ameaça para a democracia, ao menos por enquanto, porque são partidos capazes de trabalhar junto com outros grupos e de se submeter às regras democráticas". Em troca, para Basbous, os islamitas têm que "abandonar o slogan ;o islã é a solução;", e o Fattah adverte que a base de um partido "pode ser mais conservadora que a direção".