Beirute - Comunicação e eletricidade cortadas, infraestruturas destruídas e escassez de alimentos são reflexos do estreito cerco com que as forças sírias bloqueiam a cidade rebelde de Homs, relataram nesta quarta-feira (8) militantes na praça sitiada.
"Desde a madrugada, ataque com foguetes e obuses de morteiro foram extremamente intensos", disse Omar Shaker, um militante contatado de Beirute por um telefone via satélite.
Segundo Shaker, os bombardeios estão destinados a preparar o terreno para um ataque terrestre contra Homs, "a capital da revolução", e apontam, sobretudo, o bairro sunita Baba Amr, onde ele se encontra e onde algumas áreas estão totalmente destruídas.
A eletricidade e as comunicações estão cortadas, afirmou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH, com sede na Grã-Bretanha) e Shaker.
Homs (centro), que conta com 1,6 milhão de habitantes, é atacada há cinco dias, com um total de 400 mortos segundo o OSDH.
Em Baba Amr, as forças armadas "destruíram todas as infraestruturas, bombardearam os tanques de água e os postes elétricos", descreveu Shaker estimando que 40% dos edifícios foram afetados nesse bairro.
As forças de segurança dispararam balas e obuses, destruíram numerosos edifícios, incluindo uma casa onde uma menina morreu, segundo o OSDH. Os bairros de Khaldiye, Karm al Zeitun, Wadi Iran e Bayada também estão na mira.
"A situação humanitária é terrível e os alimentos começam a faltar", acrescentou Shaker. "Montamos um hospital de campanha, mas não temos o material médico adequado", acrescentou.
Na quarta-feira, pelo menos 50 pessoas morreram em Homs, entre elas três famílias inteiras, disse o OSHD.
As famílias Ghantaui, Terkaui e Zamel, ou seja, 20 pessoas incluindo mulheres e crianças, morreram nessa madrugada em suas casas nos bairros de Karm al Zeitun e Nazihin, detalhou a organização.
Hadi Abdalá, um militante em Homs contatado por um telefone por satélite, disse que as 20 vítimas foram degoladas.
É impossível verificar de imediato estas informações com uma fonte independente devido às fortes restrições impostas à imprensa estrangeira na Síria, onde o regime reprime desde meados de março de 2011 um levante popular sem precedentes.
Segundo Abdalá, nesta quarta-feira, circulavam informações sobre fileiras de tanques que se dirigiam a Homs, de Damasco.
"As explosões são ensurdecedoras. Não podemos chegar a certas áreas pela intensidade dos bombardeios e a presença de francoatiradores", disse, acrescentando que era muito difícil saber o que acontecia já que "as comunicações estão cortadas".
Os tanques teriam entrado no bairro Inshar, esmagando veículos, enquanto os soldados teriam saqueado lojas de alimentos, segundo o militante.
Um médico que trabalha em Baba Amr, Alí Hazuri, de 27 anos, relatou que um hospital de campanha instalado por militantes foi atingido em várias ocasiões e que vários médicos tinham ficado feridos, alguns gravemente.
"Um atentado a bomba fez um socorrista da Cruz Vermelha perder as duas pernas", acrescentou. "Fechamos o hospital e atendemos os feridos em suas casas", acrescentou. Havia cerca de 500 feridos apenas em Baba Amr, a metade mulheres e crianças, segundo ele.
"É preciso deixar a Cruz Vermelha entrar para evacuar os feridos", disse.
A organização Médicos Sem Fronteiras, citando testemunhas, acusou o regime sírio de deter os feridos nos hospitais públicos, de apontar suas armas contra hospitais improvisados e de controlar a distribuição de sangue.