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Países do ocidente impõem sanções e pressionam Irã a parar programa nuclear

Potências ocidentais anunciaram sanções sem precedentes à economia iraniana e aumentaram a pressão para que o país suspenda seu programa nuclear e sente à mesa de negociações. As medidas mais duras partiram das 27 nações da União Europeia. Além de suspenderem gradativamente a importação de petróleo, elas congelaram os ativos do Banco Central persa no bloco. O governo norte-americano também impôs penalidades ao banco estatal Tejarat. Em uníssono, vários líderes elogiaram as deliberações, que tiveram como consequência imediata a queda da moeda iraniana, o rial (leia nesta página). A República Islâmica respondeu com novas ameaças de fechamento do Estreito de Ormuz, uma estratégica rota marítima de petróleo, e assegurou que tais resoluções não afetarão seus planos. Um analista iraniano ouvido pelo Correio considerou a medida perigosa para a escalada de um conflito na região e observou que a população será a mais afetada.

Forçar o governo iraniano a manter diálogo sobre seus objetivos foi o argumento para a decisão de ontem do bloco europeu, o segundo maior consumidor do petróleo iraniano, depois da China. Os novos contratos para importação, compra ou transporte do petróleo bruto e produtos derivados estão proibidos ; aqueles que vigoram têm até 1; de julho para serem honrados. Os ativos do Banco Central do Irã foram congelados. O mesmo ocorreu com a troca de metais preciosos com a instituição e com os órgãos estatais iranianos. ;Quero que a pressão dessas sanções resulte em negociações. Quero o Irã de volta à mesa e que ele aceite as ideias que colocamos ou apareça com suas próprias;, declarou a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton.



Após a decisão, os líderes da Alemanha, Angela Merkel, do Reino Unido, David Cameron, e da França, Nicolas Sarkozy, pediram que o Irã ;suspenda imediatamente; o programa nuclear. Eles foram endossados pelo premiê israelense, Benjamin Netanyahu. O governo dos EUA, por sua vez, afirmou que as resoluções das nações europeias são ;outro passo firme; para pressionar Teerã, e anunciou penalidades ao banco estatal Tejarat. ;A medida da UE é coerente com outras adotadas previamente pelos EUA;, afirmaram a secretária de Estado, Hillary Clinton, e o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, por meio de um comunicado conjunto.

Porta-aviões


Ao mesmo tempo, o Pentágono confirmou que o porta-aviões USS Abraham Lincoln cruzou no domingo o Estreito de Ormuz e chegou ao Golfo Pérsico. A embarcação, capaz de transportar até 80 aviões e helicópteros, foi escoltada por um cruzador de mísseis e por dois destróieres. O Irã tem prometido fechar a passagem, caso seja alvo de novas sanções. A ameaça voltou a ser feita ontem, depois que a Arábia Saudita prometeu substituir o fornecimento iraniano.

O chanceler iraniano, Ramin Mehmanparast, citado pela tevê estatal, disse que as sanções eram ;injustas; e ;fadadas ao fracasso;. ;Medidas não impedirão o Irã de obter seus direitos fundamentais em matéria nuclear;, afirmou. O diretor do Instituto para o Oriente Médio de Londres, o iraniano Hassan Hakimian, afirmou que as sanções criam uma situação de escalada de tensões do Irã com o Ocidente, mas também prejudicam algumas das próprias economias cambaleantes do bloco. ;Esta é uma situação em que perdem os dois lados;, disse ao Correio. Segundo Hakimin, ainda que o objetivo seja mudar a conduta de um governo, a população é a que mais sofre com a punição. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informou que seus monitores visitarão o Irã entre 29 e 31 de janeiro e disse esperar que Teerã colabore. A agência assegura que o objetivo é ;resolver todas as questões substantivas pendentes;.

Após medidas, rial perde 50% do valor

A decisão da União Europeia (UE) de impor um embargo inédito ao petróleo do Irã teve como consequência a forte queda da moeda do país, o rial, que se desvalorizou frente ao dólar e às divisas estrangeiras no mercado paralelo. Em um ano, o rial já perdeu 50% de seu valor em decorrência das severas sanções financeiras internacionais impostas em 2010 pelos países ocidentais, que começam a asfixiar a economia persa.

Segundo a agência oficial Irna, ontem o dólar americano era cotado a 20.500 riais (no paralelo) apesar de o Banco Centrar ter declarado ;ilegal; qualquer transação fora dos circuitos bancários oficiais, onde o câmbio está fixado a 14 mil riais. Na quarta-feira da semana passada, a moeda persa era negociada a 18 mil por dólar. Por conta das sanções bancárias ocidentais, o Irã ; segundo maior produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) ; tem tido dificuldades para cobrar em divisas suas exportações petroleiras, que somaram mais de US$ 100 bilhões em 2011. O primeiro exportador da Opep é a Arábia Saudita.

Nas horas que antecederam a aprovação do acordo de sanções, ontem, em Bruxelas, os líderes europeus intensificaram as negociações para convencer a Grécia a aderir ao embargo. Os gregos defendiam que as medidas entrassem em vigor no prazo de um ano e pediam garantias de que sua combalida economia não será afetada pelas medidas.

A Grécia é a nação europeia mais dependente do petróleo iraniano, já que a República Islâmica não exige garantias financeiras em troca. Teerã vende cerca de 450 mil barris diários (cerca de 20% de suas exportações) à União Europeia, principalmente para a Itália, a Espanha e a Grécia.

Para o diretor do Instituto para o Oriente Médio de Londres, o iraniano Hassan Hakimian, a república islâmica deverá procurar agora diversificar ao máximo seu mercado de petróleo. Há tempos, o país tem sofrido sanções do Ocidente, mas as impostas ontem, que preveem também o congelamento dos ativos do seu Banco Central, não têm precedentes. ;Essas são muito mais abrangentes;, afirmou ao Correio.

As possibilidades apontadas por Hakimian são os mercados da China, da Índia, da Turquia e até mesmo da Rússia. Moscou, inclusive, reagiu ontem contra o que chamou de ;sanções unilaterais; ao Irã. ;As sanções unilaterais não fazem as coisas avançarem;, declarou o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, citado pela agência Interfax. ;Se o Conselho de Segurança das Nações Unidas já impôs sanções coletivas, todos devem respeitar esta decisão, sem acrescentar ou tirar nada;, acrescentou. A Rússia, que até agora aprovou quatro pacotes de sanções do Conselho de Segurança contra o Irã, divulgou que, assim como a China, seria contra novas penalidades. (RT)