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Mianmar justifica a anistia, mas minimiza seu aspecto político

NAYPYIDAW - O governo birmanês confirmou neste sábado que os 302 prisioneiros, considerados presos políticos pela oposição, foram libertados na véspera em uma ampla anistia, mas reafirmou que os beneficiados não estavam presos por suas opiniões.

"Estas libertações não foram realizadas para atender à reclamação de ninguém. Nós os libertamos por bondade do Governo", declarou o general Ko Ko, ministro do Interior, em coletiva na capital Naypyidaw.

"Algumas pessoas falam de presos políticos, alguns dizem presos de consciências. Sejam como forem chamados, nós não agimos contra ninguém por motivos políticos", assegurou.

No entanto, o general reconheceu que os 302 libertados figuravam numa lista de presos políticos elaborada por uma "organização política", provável alusão à Liga Nacional para a Democracia (LND), da opositora Aung San Suu Kyi.

"Passaram para nós 604 nomes, encontramos 430. Libertamos 302", indicou. "Os outros 128 cometeram crimes graves como atos terroristas. Não podemos libertar este tipo de pessoas", insistiu.

Ko Ko indicou que ex-membros dos serviços e informação e o ex-primeiro-ministro Khin Nyunt, de 72 anos, também foram anistiados. Nyunt foi destituído em 2004 e depois detido e condenado a 44 anos de prisão domiciliar. Sua queda foi acompanhada pelo desmantelamento completo dos serviços militares de informação.

Em outubro, 200 presos políticos foram libertados, mas esta anistia decepcionou, pois não incluída dirigentes da oposição. Outro nome libertado na véspera foi Min Ko Naing, dirigente estudantil do movimento Geração 88. Detido depois da "Revolução do Açafrão" de 2007 e condenado a 65 anos de reclusão, deixou a prisão, segundo informou sua irmã, Kyi Kyi Nyunt à AFP.

O partido da opositora birmanesa Aung San Suu Kyi saudou imediatamente a notícia. "É um sinal positivo para todo mundo. Saudamos estas liberações", indicou seu porta-voz, Nyan Win, precisando que vários dissidentes já se encontravam em suas casas.

O presidente americano, Barack Obama, comemorou a libertação, enquanto a secretária de Estado Hillary Clinton anunciou o início do processo para a troca de embaixadores.

"A decisão do presidente Hein Sein de libertar centenas de presos de consciência é um passo substancial para a reforma democrática", disse Obama em declaração escrita.

Hillary disse que os Estados Unidos iniciarão o processo para o intercâmbio de embaixadores com Mianmar depois das reformas empreendidas pelo novo regime. "Em consultas com membros do Congresso depois das diretrizes do presidente Obama, começaremos o processo para trocar embaixadores com Mianmar", disse Clinton.

O governo birmanês tem multiplicado reformas políticas espetaculares há vários meses e permitiu a volta à vida política de Suu Kyi, que se apresentará nas próximas eleições parciais de abril, quando, em novembro de 2010, ainda se encontrava em prisão domiciliar.

Mas a ONU, a União Europeia e Hillary Clinton, que fez uma visita histórica no início de dezembro, reclamam a libertação de todos os presos políticos para confirmar esta tendência. O número atual de presos políticos - artistas, jornalistas, monges, intelectuais e outros opositores -, segundo diferentes estimativas, se situa entre 500 e 1.600.