Cabul - O escândalo do vídeo que mostra quatro militares americanos de uniforme urinando sobre três cadáveres de supostos rebeldes afegãos não obstruirá as negociações de paz, afirmou nesta quinta-feira (12) um porta-voz dos talibãs.
"Estamos na fase inicial (do diálogo) no Qatar. Neste momento, se trata apenas de uma troca de prisioneiros (de Guantánamo). Não acredito que este novo problema afete as negociações com os Estados Unidos", afirmou o porta-voz Zabiullah Mujahid.
Mais cedo, o Muhajid denunciou o vídeo como um "ato de barbárie"
"Nos últimos 10 anos, aconteceram centenas de atos similares que não foram revelados", afirmou Zabihullah Mujahed, porta-voz dos insurgentes, que lutam há 10 anos contra o governo de Cabul e seus aliados da força da Otan, dirigida pelos Estados Unidos.
Na quarta-feira, o corpo de infantaria da Marinha dos Estados Unidos anunciou ter iniciado uma investigação sobre o vídeo amador divulgado na internet e, ao que parece, filmado durante uma operação no Afeganistão.
Nas imagens aparecem quatro homens com uniformes militares americanos que urinam sobre três cadáveres ensanguentados, conscientes de que outra pessoa está filmando.
Também é possível ouvir um deles dizendo "tenha um bom-dia companheiro" para o corpo sobre o qual urina.
Este tipo de comportamento é punido pelo código de justiça militar, afirmou uma fonte militar em Washington.
De acordo com a mesma fonte, o tipo de capacete e a arma de um dos homens parecem indicar, caso a autenticidade do vídeo seja confirmada, que se trata de um grupo de franco-atiradores.
As imagens do que parece ser um ato isolado podem fazer o mundo muçulmano recordar do escândalo de Abu Ghraib em 2004, quando imagens de prisioneiros iraquianos humilhados por militares americanos deram a volta ao mundo.
Segundo o Conselho para as Relações Americana-Islâmicas, principal associação muçulmana americana, as imagens colocam em risco outros soldados e civis afegãos.
Nos últimos anos, vários casos similares de suposta profanação por soldados (boatos de exemplares do Alcorão jogados no vaso sanitário, por exemplo) ou por jornais ocidentais (caricaturas de Maomé) provocaram revolta no Afeganistão e manifestações violentas que provocaram mortes.
Paralelo ao incidente - e aparentemente emitido sem o conhecimento do vídeo-, outro comunicado talibã afirmou que a guerra santa (jihad) não será interrompida durante as negociações políticas com a comunidade internacional visando a conflito que devasta o Afeganistão há 10 anos.
Há poucos dias, os talibãs anunciaram que estavam dispostos, sob certas condições, a abrir um escritório de representação no exterior para iniciar negociações com os Estados Unidos.
Este foi o primeiro ato de abertura política dos insurgentes desde o início do conflito em 2001, quando tropas americanas invadiram o Afeganistão.
[SAIBAMAIS]"Os talibãs desenvolvem a jihad há uma década e meia para estabelecer um governo islâmico", afirma o comunicado, que inclui no período os cinco anos em que o grupo governou o Afeganistão, 1996 e 2001.
"Para alcançar este objetivo e dar paz e estabilidade ao Afeganistão, o Emirado Islâmico do Afeganistão (os talibãs) intensificou recentemente os esforços políticos", completa o comunicado.
"Atualmente há negociações com a comunidade internacional para resolver a situação. Mas isto não quer dizer abandonar a jihad ou aceitar a Constituição da administração de Cabul", conclui o comunicado.