Jornal Correio Braziliense

Mundo

Teerã acusa governo israelense por atentado contra cientista nuclear

Teerã acusa o governo israelense pelo atentado contra Mostafa Roshan, vice-diretor da central de enriquecimento de urânio de Natanz


Mostafa Ahmadi Roshan, vice-diretor de comércio da central de enriquecimento de urânio de Natanz, estava dentro de seu Peugeot 405, perto da Rua Gol Nabi (norte de Teerã), quando o carro foi pelos ares. O cientista nuclear de 32 anos morreu na hora. Duas pessoas também ficaram feridas, uma delas faleceu no hospital. Testemunhas contaram que um motociclista afixou uma bomba na lateral do veículo, em plena luz do dia e em um local movimentado.

Autoridades do Irã não tardaram em responsabilizar Israel pelo ataque, o quarto do tipo em apenas dois anos. ;A bomba era do tipo magnética e semelhante às usadas anteriormente para assassinar cientistas, e isso é obra dos sionistas;, declarou à agência de notícias estatal Fars o secretário do Conselho de Segurança da província de Teerã, Safar Ali Baratlou. ;Os sionistas parecem estar tentando criar uma atmosfera de insegurança no Irã, às vésperas das eleições parlamentares, para reduzir o comparecimento das pessoas nas urnas;, acrescentou. Mas os iranianos só renovarão o parlamento em 2 de março.

O vice-presidente iraniano, Mohammed Reza Rahimi, também apontou o dedo para o governo judeu. ;A ação terrorista foi realizada pelos mercenários do regime sionista e por aqueles que clamam estar lutando contra o terrorismo;, afirmou, durante uma reunião do gabinete. ;Eles devem saber que os cientistas iranianos estão mais decididos do que nunca a avançar pelo caminho do progresso científico.;

Formado em engenharia química pela Universidade de Tecnologia de Sharif, o cientista Mostafa Roshan havia se reunido com inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) poucos dias antes de morrer, segundo a agência de notícias iraniana Mehr. Os parlamentares iranianos reagiram à notícia da explosão aos gritos de ;Morte a Israel; e ;Morte aos Estados Unidos;.

Um discurso de Benny Gantz, chefe do Estado-Maior do Exército de Israel, lançou ainda mais lenha na fogueira. ;2012 será um ano crítico em relação à conexão entre o Irã ganhando força nuclear, as mudanças na liderança, a pressão contínua da comunidade internacional e eventos estranhos;, disse, ante o Comitê de Defesa e de Assuntos Externos da Knesset (parlamento israelense). O jornal francês Le Figaro divulgou ontem que agentes do Mossad, o serviço secreto de Israel, estão recrutando e treinando dissidentes do Curdistão iraquiano para operar contra Teerã.

Operações secretas
Por e-mail, o norte-americano Theodore Karasik ; diretor do Instituto para Análise Militar do Golfo Pérsico e do Oriente Médio (em Dubai) ; considerou o atentado em Teerã como parte de um jogo de retórica letal entre Teerã e o Ocidente. ;Claramente, existe uma campanha secreta, em que potências estrangeiras são capazes de entrar no Irã para missões específicas, como o assassinato de cientistas nucleares;, afirmou ao Correio. ;É mais difícil, no entanto, culpar um país específico, mas não seria surpreendente o envolvimento de Israel.;

De acordo com Karasik, o regime do presidente Mahmud Ahmadinejad está ;claramente interessado; em construir a bomba atômica, motivado pelo ;orgulho persa;. ;Teerã crê que é seu direito divino possuir tal arma para salvaguardar a República Islâmica. Além disso, os iranianos se consideram uma superpotência regional e, por isso, devem ter o artefato;, comentou.

O israelense Mordechai Kedar, especialista do Centro para Estudos Estratégicos Begin-Sadat (em Ramat Gan), assegura que há uma longa lista de países interessados em matar cientistas iranianos envolvidos na produção de armas de destruição em massa. Ele cita os EUA, o Reino Unido, a França, a Arábia Saudita, o Iraque, os Emirados Árabes Unidos, Israel, entre outros. Kedar também aposta no caráter bélico do programa nuclear de Teerã. ;Uma bomba atômica é a segurança do Irã de que outros países não ousarão atacá-lo;, admite. O vice-chanceler da Rússia, Sergei Ryabkov, disse à agência de notícias Itar-Tass que uma ação ação militar contra o Irã seria ;um erro grave e flagrante, de consequências amplas para a estabilidade regional e mundial;.


Mortes sob suspeita
Outros três cientistas nucleares foram assassinados nos últimos dois anos:

12/1/10 - Um físico nuclear internacionalmente reconhecido, Massud Ali Mohamadi, professor na Universidade de Teerã e que trabalhava para os Guardiões da Revolução, morreu na explosão de uma moto-bomba em frente à sua casa, na capital iraniana.

29/11/10 - Majid Shahriari, fundador da Sociedade nuclear do Irã e ;responsável por um dos grandes projetos da Organização iraniana da energia atômica;, foi morto em Teerã pela explosão de uma bomba magnética fixada em seu automóvel.

23/7/11 - O cientista Dariush Rezainejad, que trabalhava em projetos do Ministério da Defesa, foi morto a tiros por desconhecidos que se deslocavam em uma moto em Teerã.