Após uma década de guerra, o presidente Barack Obama quer 10 anos de redução no orçamento da Defesa dos Estados Unidos. Ao anunciar a nova estratégia do setor, o líder afirmou que o foco da política externa norte-americana sai do Oriente Médio e se volta para a Ásia e para o Pacífico. Apesar das grandes reduções aventadas, Obama garante que seu país manterá a superioridade militar. Contemporâneo ao início do processo eleitoral nos EUA, o plano deixou claro que a atual administração apostará todas as suas fichas na economia, castigada por um orçamento doméstico apertado e tema favorito dos opositores republicanos na corrida para tirar o democrata da Casa Branca.
Em uma rara aparição na sala de imprensa do Pentágono, o presidente defendeu a estratégia militar que se afasta dos conflitos da era George W. Bush ; guerras do Iraque e do Afeganistão ; e enfatiza o poderio naval e aéreo no Pacífico e no Estreito de Ormuz, a fim de contrabalançar China e Irã. Com este último, os EUA vivem recentemente uma troca de ameaças que analistas têm considerado uma espécie de ;Guerra Fria;. Teerã ameaçou fechar o estreito, principal rota marítima do petróleo mundial, e conduziu uma série de exercícios militares na região. Washington reagiu, mantendo a navegação de seus porta-aviões por Ormuz, rumo a suas bases no Kuweit.
Segundo a estratégia anunciada, o orçamento do Pentágono deve ser cortado em cerca de
US$ 487 bilhões no prazo de 10 anos e se refletirá na redução do número de soldados. ;Mas o mundo inteiro deve saber: os Estados Unidos vão manter sua superioridade militar, com forças armadas que serão ágeis, flexíveis e prontas a reagir ao conjunto de circunstâncias e ameaças possíveis contra os interesses do país;, disse o presidente. O plano de cortes será detalhado em um projeto a ser apresentado este mês.
Em carta que acompanhou o anúncio da nova estratégia, Obama deixou claro que sua preocupação é priorizar os desafios da economia norte-americana. Ao mesmo tempo, garantiu que os EUA ;não repetirão os erros do passado, quando suas forças armadas foram mal preparadas para o futuro;. A declaração foi uma resposta às críticas dos republicanos, que o acusam de sucatear o setor. Segundo ele, o Pentágono passará por reformas e dará ênfase ao combate ao terrorismo, à proliferação nuclear, à proteção ao território norte-americano e à ;detenção de qualquer potencial adversário;. Áreas como ciberespaço, forças de operações especiais e inteligência não sofrerão cortes.
Reequilíbrio
Desde 11 de setembro de 2001, os gastos com Defesa nos EUA tiveram um grande salto. Obama afirmou ontem que o fim da guerra do Iraque e a redução de tropas no Afeganistão foram uma oportunidade para reequilibrar as despesas. Enquanto briga pela reeleição, o presidente tenta impulsionar o crescimento econômico e reduzir o nível de desemprego no país, que ameaça seu segundo mandato. Ontem, o líder pôde comemorar a informação de que os pedidos de auxílio-desemprego nos EUA tiveram queda de 15 mil na semana passada ; sinal de que o mercado de trabalho pode estar melhorando.
O foco na região Ásia-Pacífico já havia sido antecipado pelo presidente durante visita à Austrália, em meados de novembro. ;As reduções orçamentárias não ocorrerão às custas desta região crucial;, afirmou o presidente. Na opinião do major-general Edward Atkeson, veterano em estratégia militar e ex-chefe dos serviços de inteligência dos Estados Unidos, a decisão foi acertada. ;Os EUA têm sido, há um bom tempo, o país mais poderoso militarmente do mundo e, agora, essa supremacia pode ser desafiada pela nova potência chinesa;, explicou, em entrevista ao Correio. ;Não vejo nenhum conflito se desenvolvendo entre esses dois países hoje, mas poderá (ocorrer) no futuro.;
Para o estrategista, é importante que os Estados Unidos ;deem um passo de cada vez; para não afrontarem Pequim ou outros países da região. Por isso, ele elogia a decisão de enviar ;poucos (250) marines; à base norte-americana na Austrália, no ano passado. ;Apenas para lembrar que os EUA são o país mais poderoso do mundo;, afirmou o general.
Um novo Kennedy se lança na política
Um jovem membro do clã Kennedy, de apenas 31 anos, anunciou ontem a decisão de lutar por uma vaga no Congresso dos Estados Unidos, numa nova reviravolta na história de uma das dinastias políticas mais famosas do mundo. Joseph P. Kennedy III, filho do ex-parlamentar Joseph P. Kennedy II e neto do ex-candidato presidencial assassinado Robert F. Kennedy, informou que tentará uma candidatura ao Congresso dos Estados Unidos pelo Quarto Distrito de Massachusetts (nordeste). ;Minha decisão se fundamenta num profundo compromisso com o serviço público e em minha vontade ; tanto em nível pessoal como familiar ; de enfrentar desafios para encontrar soluções justas, práticas e bipartidárias;, disse Joseph P. Kennedy III, que hoje atua como assistente de promotoria do condado de Middlesex, em Massachusetts.