Depois de comandar o Egito por 30 anos, o ex-presidente Hosni Mubarak pode ser condenado a morrer na forca pela Justiça do país. Os responsáveis pela acusação do ditador deposto pediram ontem a pena máxima para ele, acusado de ser responsável pelo assassinato de manifestantes durante a revolta que o tirou do poder em 11 de fevereiro. Dados oficiais dizem que a repressão aos opositores deixou 850 mortos.
;A lei prevê a pena de morte para o assassinato premeditado;, declarou o promotor Mustafah Khater ao fim de sua exposição. ;O presidente da República é responsável pela proteção do povo. A questão não é apenas se ele ordenou a morte dos manifestantes, mas saber por que ele não atuou para interromper a violência;, afirmou em seguida Mustafa Suleiman, chefe da promotoria.
O ex-ministro do Interior Habib el-Adli e seis ex-assessores também são julgados. Além disso, os dois filhos do ditador, Alaa e Gamal, são acusados, com o pai, de corrupção. Na argumentação com relação à responsabilidade de Mubarak sobre as mortes, Suleiman argumentou que o ministro não poderia ter dado a ordem de abrir fogo contra os manifestantes sem receber instruções do presidente. ;Como ele poderia não estar a par dos protestos que começaram em 25 de janeiro em várias cidades?;, indagou, ao rejeitar as alegações de que Mubarak não foi informado sobre a gravidade da situação.
No julgamento, retomado em 28 de dezembro depois de três meses de interrupção, a promotoria tem apresentado o réu principal como um ;tirano corrupto;. ;A gestão de Mubarak foi marcada pela corrupção. Abriu a porta a seus amigos e arruinou o país sem prestar contas;, disse Suleiman na terça-feira.
O acusador também criticou as autoridades egípcias de ;se recusarem deliberadamente a cooperar com o Ministério Público; na investigação, mas afirmou que tem provas suficientes para uma condenação. ;A acusação confirmou que Mubarak, Adli e outras seis autoridades da segurança ajudaram e incitaram a disparar contra a multidão;, garantiu Suleiman.
Como das vezes anteriores, o ex-ditador, de 83 anos, chegou em uma ambulância e foi levado sobre uma maca para a corte. Ele era aguardado tanto por partidários como adversários, que gritavam palavras de ordem na entrada do Tribunal do Cairo. Mubarak espera o resultado do julgamento cumprindo prisão preventiva em um hospital militar no subúrbio do Cairo.
Imolação na Tunísia
Um homem ateou fogo ao próprio corpo, na tarde de ontem, em frente à sede do governo de Gafsa, centro-oeste da Tunísia. A imolação ocorreu no mesmo dia da visita de três ministros à cidade, muito afetada pela falta de postos de trabalho. O homem, que estava desempregado, foi levado em estado muito grave a um hospital de Ben Arus, perto da capital, Túnis. Foi uma situação idêntica, em dezembro de 2010, também na Tunísia, que detonou a Primavera Árabe. O verdureiro Mohammed Bouazizi, 26 anos, ateou fogo em seu corpo em protesto por não conseguir trabalho. A partir daí, houve uma série de manifestações que culminou com a derrubada da ditadura de Zine El-Abidine Ben Ali.