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Com novas sanções assinadas por Obama, Irã ensaia fechar Estreito de Ormuz

Poucas horas depois de Barack Obama assinar uma lei que reforça as sanções dos Estados Unidos ao Banco Central do Irã, por causa de seu programa nuclear, o regime islâmico anunciou que foi testado no Estreito de Ormuz um míssil terra-ar de médio alcance, como parte de exercícios militares realizados desde o Natal nessa estratégica via marítima. Para hoje, no encerramento das operações, a Marinha iraniana planeja simular uma manobra de interdição do tráfego pelo estreito, passagem obrigatória para mais de 20% do petróleo mundial transportado por navios.

;A partir de amanhã (hoje), a maioria de nossas unidades navais ; de superfície, submarinas e aéreas ; vai tomar posição segundo uma nova disposição tática destinada a impossibilitar a passagem de qualquer navio pelo Estreito de Ormuz, caso a República Islâmica assim decida;, afirmou o comandante da Marinha, almirante Mahmud Mussavi. Teerã ameaça fechar o estreito caso o Ocidente imponha um embargo às exportações de petróleo iraniano, e os EUA já afirmaram que consideram ;intolerável; a interdição da principal via de escoamento do óleo. Foi também o almirante Musavi quem confirmou o lançamento do míssil, ;equipado com a mais moderna tecnologia de combate contra alvos e capaz de evitar radares e sistemas inteligentes que tentam interferir na navegação (do míssil);.

A tensão militar no Golfo Pérsico coincide com uma escalada nas pressões dos EUA e da Europa contra o programa nuclear iraniano, suspeito de ter o objetivo secreto de desenvolver armas. No sábado, o presidente Obama promulgou a lei sobre financiamento do Departamento de Estado em 2012. O texto inclui novas sanções contra o setor financeiro do Irã ; extensivas aos BCs de outros países que participem de transações petroleiras com a República Islâmica ; e mereceu resposta dura do presidente Mahmud Ahmadinejad. ;O Banco Central é a espinha dorsal da pressão dos inimigos e deve possuir a resistência necessária para neutralizar as conspirações;, disse o governante iraniano.

Pressão externa

Também a União Europeia analisa um novo pacote unilateral de sanções financeiras ao regime islâmico, em linhas semelhantes ao assinado por Obama. Os EUA e seus aliados europeus articulam ainda uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas para analisar a adoção de medidas de alcance internacional contra Teerã. A pressão ocidental se baseia em um relatório divulgado em novembro pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, organismo da ONU). O texto eleva o tom das preocupações com o programa nuclear iraniano e aponta atividades compatíveis com o desenvolvimento de armas ; como simulações realizadas em computador para o projeto de detonadores para artefatos atômicos.

Os partidários de uma nova rodada de sanções do Conselho de Segurança ao Irã esbarram na ameaça de veto por parte da Rússia e da China, ambas aliadas do regime islâmico e com interesses econômicos no país ; no caso russo, diretamente no setor nuclear.

Produção local

O Irã anunciou ontem que foi testada a primeira barra de combustível nuclear totalmente produzida no país, da extração do urânio até o seu enriquecimento. ;Depois de vários testes, a barra foi introduzida no reator de pesquisas nucleares de Teerã para investigar seu bom funcionamento;, afirma o site da Organização Iraniana de Energia Atômica. O minério usado no reator tem grau de enriquecimento de 20%, o que o torna utilizável apenas em instalações para fins civis ; para a produção de uma bomba atômica é necessário urânio enriquecido a 90%.