Paris - Homem forte do Panamá nos anos 80, homenageado com a Legião de Honra da França e derrotado pelos Estados Unidos, que o acusaram de tráfico de drogas, Manuel Antonio Noriega, também condenado em 2010, em Paris, por lavagem de dinheiro, foi extraditado neste domingo (11/12).
Considerado militar sem escrúpulos, ex-agente da CIA ligado a Pablo Escobar e a Fidel Castro, Noriega, que em fevereiro completará 78 anos, retorna ao Panamá 15 dias depois de a justiça francesa autorizar sua extradição.
O Panamá o queria de volta para cumprir três condenações de 20 anos cada uma, pelo assassinato de três opositores.
Levado dos Estados Unidos à França, em 26 de abril de 2010, depois de passar 21 anos numa prisão de Miami, por cumplicidade no tráfico de drogas, Manuel Noriega foi condenado pela justiça parisiense a sete anos, por lavagem de três milhões de dólares do cartel de Medellín em bancos franceses nos anos 80. O réu denunciou a acusação como "montagem imaginária".
Envelhecido, com dificuldades para caminhar e com diversos problemas de saúde, aquele que foi chamado em seus tempos de glória "Cara de Abacaxi" reafirmou várias vezes diante dos magistrados franceses que queria voltar ao Panamá.
Durante seu julgamento na França - onde já havia sido condenado à revelia a 10 anos de prisão pelo mesmo crime -, Noriega recordou a carreira militar e política que o transformou no homem forte do Panamá, entre 1983 e 1989.
Nascido em fevereiro de 1934 em uma família pobre panamenha, Noriega iniciou muito jovem a carreira militar.
Depois de participar de um golpe, em 1968, contra o presidente Arnulfo Arias, iniciou sua ascensão até se tornar, nos tempos do general Omar Torrijos, um dos militares mais próximos do caudilho nacionalista.
Foi então que se alistou como espião da Agência Central de Inteligência americana (CIA), onipresente no Panamá, para vigiar o cobiçado Canal, controlado até o ano 2000 pelos Estados Unidos.
Depois da morte de Torrijos, em 1981, num misterioso acidente de aviação, e em seguida à negociação dos tratados que garantiram a devolução do Canal ao Panamá, Noriega tornou-se chefe dos serviços de inteligência.
Seu poder foi total a partir de 1983, quando chegou ao comando da Guarda Nacional, encarregada do controle das Forças Armadas, da Polícia, do Departamento de Imigração, além do controle aéreo e da administração do Canal.
Num contexto de guerras civis na América Central, Noriega foi capaz de atuar em várias frentes para se manter no poder, mas, de aliado fiel dos Estados Unidos passou a ser seu inimigo número um, com a chegada à Casa Branca de George Bush pai (1989-92), ex-diretor da CIA.
Os Estados Unidos começaram a isolá-lo e a repressão interna foi intensificada.
Em 1986, o jornal The New York Times questionou o papel de Noriega no assassinato do médico e opositor Hugo Spadafora, encontrado decapitado.
Noriega receberia um novo golpe, em 1987, quando o ex-chefe do Estado-Maior, coronel Roberto Díaz Herrera, acusou-o de corrupção, fraude eleitoral e responsabilidade no acidente aéreo em que morreu Torrijos.
Embora Noriega tenha mantido um certo apoio, com um discurso populista, as acusações foram motivo de manifestações no Panamá.
O Senado americano exigiu que abandonasse o poder, mas o militar negou-se e desafiou o vizinho do Norte, que então o acusou de tráfico de drogas.
A imagem dos helicópteros americanos sobrevoando a "Panama City" ficou na memória de muitos. Naquele 20 de dezembro de 1989, tropas americanas partiram para a invasão, como forma de derrotar Noriega, causando centenas de mortos. Noriega refugiou-se na Nunciatura, mas acabou por se render.
Durante o último comparecimento à justiça francesa, há duas semanas, Noriega disse querer voltar "ao Panamá sem ódios nem rancores".
"Meu objetivo é retornar ao Panamá e provar inocência", afirmou.