A Turquia alertou ontem para o risco de o conflito na Síria se espalhar para a região e avisou que não poderá permanecer ;impassível; diante de uma escalada de violência. Líder regional, o governo de Ancara aumentou a pressão sobre o vizinho no mesmo dia em que as Nações Unidas instaram o presidente Bashar Al-Assad a comprometer-se com o plano de paz da Liga Árabe e permitir a entrada de monitores internacionais. Na segunda-feira, a alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Navi Pillay, falará sobre o tema ao Conselho de Segurança, que poderá votar um pedido de investigação a ser apresentado ao Tribunal Penal Internacional (TPI), por crimes contra a humanidade.
As declarações da Turquia e da ONU foram reações à entrevista concedida dois antes por Assad à rede de tevê americana ABC, na qual negou ter dado ordens para a repressão às manifestações. O Ministério das Relações Exteriores sírio apontou manipulações na edição. ;Não estamos surpresos pela distorção da entrevista;, afirmou o porta-voz Jihad Maqdessy, acrescentando que seu país tem sido perseguido política, sectária e economicamente.
O chanceler turco, Ahmed Davutoglu, alegou que seu país, que já foi um dos principais aliados da Síria, não deseja interferir nas questões internas do vizinho árabe, mas sente-se no dever de dizer ;basta; caso a crise afete a região. ;Se surgir um risco à segurança regional, então não podemos dar-nos ao luxo de apenas assistir;, disse Davutoglu. Acompanhando uma decisão da Liga Árabe, a Turquia anunciou sanções econômicas contra a Síria.
Ainda em reação à entrevista de Assad, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, rebateu o questionamento do presidente sírio sobre a exatidão do número de mortos durante os protestos. ;Todas as informações críveis mostram que mais de 4 mil pessoas foram mortas por forças do governo. A alta comissária para Direitos Humanos esclareceu isso por meio de várias fontes confiáveis;, afirmou Ban. O secretário-geral também exortou o regime a permitir a entrada de observadores internacionais para verificar as denúncias de abuso. A visita dos monitores é um dos principais pontos de um plano elaborado pela Liga Árabe para pôr fim à violência, após quase nove meses de protestos.
Mediação
A entidade pan-árabe solicitou a mediação do Iraque para pressionar Damasco a assinar um acordo. Iraque e Líbano foram os dois únicos países da Liga Árabe a não aprovarem sanções contra a Síria. Na opinião do professor de Oriente Médio da Universidade Trinity (Texas) David Lesch, a pressão por meio de sanções econômicas é o caminho mais acertado para a Liga Árabe. ;No fim das contas, será o enfraquecimento econômico do regime sírio que o afetará drasticamente ou o levará a se engajar em um diálogo com a oposição no último minuto;, afirmou ao Correio.
Em uma prática que vem se repetindo nos últimos meses, os protestos de sexta-feira ganharam as ruas do país e organizações locais denunciaram a morte de pelo menos mais 35 pessoas. A violência foi mais intensa em Homs, um dos principais focos da contestação, onde na véspera sabotadores explodiram um dos principais oleodutos do país. Enquanto ativistas acusaram o próprio governo de destruir o oleoduto, deliberadamente, a mídia oficial denunciou o ataque de um ;grupo terrorista armado;.