O conflito do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, com o Ocidente ganhou, ontem, ares de guerra. Pelo menos no campo diplomático. Nações amigas do Reino Unido ; que teve a embaixada em Teerã invadida por radicais islâmicos, na terça-feira ; protagonizaram uma espécie de levante contra o ato. Pouco depois de Londres anunciar o fechamento de sua representação na capital iraniana, a Noruega seguiu o mesmo caminho. França, Itália e Alemanha, que já haviam condenado a ação dos manifestantes, também chamaram seus representantes em Teerã para avaliar uma possível retirada do país (veja o quadro). O governo britânico foi ainda mais enfático: expulsou os diplomatas iranianos de Londres e estuda impor sanções à importação de petróleo iraniano.
A diplomacia de Ahmadinejad reagiu à indignação com um pedido de desculpas e com a promessa de que os responsáveis serão levados à Justiça. As garantias caíram por terra quando Ali Larijani, presidente do Parlamento do Irã, fez declarações polêmicas sobre o caso. Ele atribuiu a ação dos manifestantes à opressão do Reino Unido sobre o Irã. ;A ação precipitada do Conselho de Segurança das Nações Unidas em condenar os estudantes (que invadiram a embaixada) pretende cobrir os crimes passados da Grã-Bretanha e dos EUA;, atacou, por meio da rede de tevê estatal. Na terça-feira, os 15 países-membros do órgão da ONU condenaram a invasão ; entre eles, China e Rússia, aliados de Ahmadinejad.
William Hague, ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, engrossou o coro da revolta. Em um discurso no Parlamento, ele acusou o governo iraniano de permitir a invasão e de resposta lenta à agressão. Um grupo de policiais estava do lado de fora da embaixada britânica e não tentou impedir o ato de vandalismo. ;A ideia de que as autoridades iranianas não puderam proteger nossa embaixada ou que esse ataque possa ter ocorrido sem algum nível de consentimento do regime é irreal;, apontou.
A tolerância do governo iraniano com a invasão fez com que o Reino Unido determinasse o fechamento imediato da embaixada britânica em Teerã e a retirada dos funcionários iranianos de Londres em até 48 horas. ;Se um país torna impossível para nós operar em seu solo, eles não podem esperar que uma embaixada funcione aqui;, justificou Hague perante os deputados. Mesmo com essas declarações, a chancelaria de Londres não cortou, formalmente, as relações diplomáticas com o Irã.
A Itália também demonstrou preocupação com a segurança de seus diplomatas. O chanceler Giulio Terzi afirmou que só manterá os funcionários da representação no Irã se o governo de Ahmadinejad garantir a integridade de seu pessoal. ;Estamos refletindo rapidamente sobre a presença de nosso embaixador e nosso corpo diplomático (em Teerã);, disse. Terzi anunciou que discutirá uma ação conjunta entre a União Europeia e os Estados Unidos para impor um embargo ao petróleo iraniano. A proposta, porém, não deve ir adiante. Espanha, Grécia e a própria Itália dependem do combustível.
Violência
Para analistas, o ataque às representações do Reino Unido foi uma clara resposta às sanções impostas ao Irã. ;Essa invasão, aliada à tentativa iraniana de assassinar o embaixador da Arábia Saudita (em outubro), revela um crescente comportamento agressivo e imprudente do Irã;, afirmou ao Correio Matthew Kroenig, da Universidade de Georgetown e pesquisador do Council on Foreing Relations. Kroenig acredita que Ahmadinejad deve estar satisfeito com a retirada do embaixador britânico. Assim, o ditador poderia continuar com a expansão de seu programa nuclear longe da fiscalização ocidental. ;Dados os severos conflitos e interesses entre o Ocidente e o Irã, nós não podemos permitir que nossas poucas janelas de acesso aos trabalhos internos no país sejam fechadas;, opina o especialista.
Indignação orquestrada
Veja quais outros países reagiram à invasão à embaixada britânica em Teerã
Noruega
O governo fechou a embaixada, embora os funcionários ainda permaneçam na capital iraniana. Um porta-voz do Ministério de Relações Exteriores disse que a retirada dos noruegueses do país ainda está sendo analisada.
Itália
O chanceler Giulio Terzi afirmou estar considerando fechar a representação italiana em Teerã. Para que isso não ocorra, o governo iraniano precisa dar garantias de segurança aos diplomatas que vivem na cidade.
França e Alemanha
Ambos os governos chamaram seus embaixadores para consultas sobre a crise provocada pela invasão dos radicais islâmicos. É possível que os dois países fechem as representações e retirem seus funcionários do território iraniano.