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Mulheres vulneráveis são presas fáceis dos traficantes de droga do México

CULIACAN - Traficantes de droga entraram na casa da mexicana Martha Lopez, sabendo que ela se preparava para visitar o filho doente nos Estados Unidos. Forçaram-na a esconder no corpo entorpecentes destinados ao mercado americano.

Enquanto um homem apontava o revólver para sua cabeça, uma outra mulher amarrava em torno de sua cintura uma fita adesiva, contendo droga sintética, para transportar no avião.

Ela foi parada no aeroporto, há três anos e, a partir daí, essa septuagenária cumpre pena de dez anos na prisão para mulheres de Culiacan, no Estado de Sinaloa, o feudo do principal cartel de droga mexicano, de mesmo nome, no noroeste do país.

Mais e mais mulheres se envolvem no tráfico, no México: muitas vezes como simples mulas, encarregadas de transportar, por bem ou por mal, a droga. Não têm nenhuma proteção e são severamente punidas quando pegas.

Outras estão envolvidas na lavagem de dinheiro, em assassinatos ou são encontradas decapitadas. "Tinha muito medo realmente, mas queria ver meu filho, em San Quintin. Disseram que o matariam se eu os denunciasse", conta Martha Lopez, em sua cela da prisão de Culiacan, onde cumpre pena de três anos.

O número de detidos dobrou no México nos últimos dez anos, para se estabelecer, atualmente, em 11.000, dos quais um terço por episódios ligados ao tráfico de droga, segundo o ministério da Segurança Pública. As mulheres representam, no entanto, 5% da população carcerária.

O filme mexicano "Miss Bala" (2011), que conta a história de uma jovem mulher, candidata a um concurso de beleza e levada ao mundo do tráfico, testemunha com exatidão o crime organizado. Inspirado num fait divers real sobre uma rainha da beleza, detida em 2008, o filme mostra uma mulher passiva, manipulada por criminosos, num universo machista.

Ilustra os riscos por que passam os moradores das regiões afetadas pela violência ligada ao narcotráfico, que causou mais de 45.000 mortos no México, desde 2006.

"A Rainha do Pacífico"

Ruas cheias de concessionárias de carros de luxo testemunham a enorme fortuna acumulada por alguns, em Culiacan, feudo do cartel de Sinaloa, o mais importante grupo de traficantes de drogas do México, dirigido por Joaquin Guzman, apelidado de "El Chapo".

O Estado de Sinaloa teve, também, mulheres que exerceram funções de liderança nas gangues: Blanca Cazeres, chamada de "a Imperatriz", ou Sandra Avila, "A Rainha do Pacífico".

Mas a maior parte das envolvidas são pobres e sem estudo.

"Os bandos de criminosos recrutam mulheres precisamente porque são mais vulneráveis e menos capazes de se defender", destaca Elena Azaola, do Centro mexicano de Pesquisa em Antropologia Social.

As sentenças pronunciadas são particularmente severas, observa ela.

"As mulheres detidas são, com frequência, abandonadas, sem ninguém para defendê-las. Mas muitas são, também, namoradas ou companheiras de vendedores de droga e sabem o que faz o parceiro. Muitas vezes, além de estarem a par, são também ativas", explica Teresa Guerra, uma advogada que faz parte de um coletivo local de mulheres.

Mais da metade das 75 detidas da penitenciária de Culiacan, cercada de muros e de arames farpados, estão aí por ações ligadas ao tráfico.

Entre os inúmeros casos, há o de Josefa Carreno, a quem foi proposto 1.000 dólares para passar de carro, na fronteira com os Estados Unidos, levando metanfetamina, uma droga sintética poderosa, escondida em garrafas de iogurte. "Eles me encontraram num momento de privação. Meus dois filhos eram realmente muito pequenos", diz essa mãe solteira, detida em Culiacan. "Pensei que fosse fácil".

Mercedes Rodriguez admite por sua vez, um fato raro, que agiu mais pelo risco, pela adrenalina, do que por dinheiro. Foi pega transportando droga ao longo do litoral do Pacífico. Seu filho caçula parou de falar com ela assim que foi presa há dois anos, conta, enxugando as lágrimas.