No pior bombardeio aéreo ao Paquistão dos últimos 10 anos, helicópteros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) mataram pelo menos 28 soldados, desencadeando uma crise política entre Islamabad e seus aliados ocidentais. ;Esse é um ataque à soberania paquistanesa. Não vamos permitir qualquer estrago do tipo;, disse um furioso Yusuf Raza Gliani, o primeiro-ministro, às emissoras de televisão do país. Depois de se reunir com aliados, ele afirmou que poderá cortar relações diplomáticas com os Estados Unidos e a Otan. Um porta-voz da organização afirmou que está ;ciente de que há vítimas no Paquistão;. ;É bastante provável que (as mortes) tenham sido causadas por uma ação da coalizão;, admitiu o general americano Carsten Jacbson.
O ataque ocorreu na madrugada de ontem, às 2h (horário local), em uma zona tribal na fronteira entre Paquistão e Afeganistão, um tradicional reduto de talibãs e da rede Al-Qaeda, que realizam ataques constantes contra tropas da Otan em território afegão. Quando os Estados Unidos, que fornecem dois terços das tropas no Afeganistão, bombardeiam regiões como essa com o objetivo de atingir talibãs, Islamabad faz protestos tímidos, mas é enérgico quando fazem vítimas entre civis e oficiais do Exército.
O poderoso chefe das Forças Armadas, general Ashfaq Pervez Kayani, disse em um comunicado que ;todos os passos necessários serão dados para responder a esse ato irresponsável. Protestamos veementemente contra a Otan, para que uma ação urgente e forte seja tomada contra os responsáveis por essa agressão;, afirmou. O comandante das forças da Otan no Afeganistão, general John R. Allen, disse que oferecia suas condolências às famílias dos soldados paquistaneses, que ;podem ter sido mortos ou feridos durante o incidente na fronteira;. A Embaixada dos EUA em Islamabad também ofereceu condolências. ;Lamento a perda da vida de qualquer oficial paquistanês e prometo que os Estados Unidos vão trabalhar muito próximos ao Paquistão para investigar o incidente;, afirmou o embaixador Cameron Munter.
Bloqueio
Pouco tempo depois do ataque, o Paquistão ordenou o bloqueio dos comboios de abastecimento da Otan no Afeganistão que passam por seu território. Uma caravana de caminhões que se encontrava perto de cruzar a fronteira em Khyber foi reenviada a Peshawar, principal cidade do nordeste do país, de acordo com Muthair Hussein, responsável pela administração de Khyber, por onde passam as cargas de provisões da Otan. Nos últimos anos, o Paquistão denunciou por diversas vezes a violação do espaço aéreo nacional por parte dos soldados americanos. A última crise ocorreu em setembro, quando Islamabad acusou a força internacional de matar dois soldados paquistaneses. Já nessa oportunidade, o governo ordenou o bloqueio dos comboios de abastecimento da Otan. A fronteira ficou fechada por duas semanas, e só foi reaberta depois que o governo dos Estados Unidos pediu desculpas formalmente.
As relações entre Paquistão e a Casa Branca se deterioraram seriamente depois que um comando americano invadiu o espaço aéreo paquistanês e matou o então líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, na cidade de Abbottabad, no norte do Paquistão, em maio. Os governo americano acusa regularmente o Paquistão de fazer um jogo duplo e de sustentar clandestinamente rebeldes talibãs para defender seus interesses estratégicos no Afeganistão, de onde a Otan pretende retirar todas as suas tropas antes do fim de 2014.
Apesar da promessa de investigar o bombardeio e do oferecimento de condolências, os Estados Unidos estão no alvo político do Paquistão. ;Acho que devemos ir ao Conselho de Segurança da ONU contra eles;, disse o brigadeiro Mahmood Shah, ex-chefe de segurança das áreas tribais. ;Até agora, o Paquistão tem sido culpado por tudo que acontece no Afeganistão. Mas o ponto de vista do nosso país jamais é mostrado pela mídia internacional.;
Iraque
Pelo menos 15 pessoas morreram e 18 ficaram feridas em atentados a bomba em Bagdá e na cidade de Abu Ghraib, no Iraque, de acordo com a agência de notícias France Press. Fontes da área médica e de segurança afirmaram à AFP que os ataques ocorreram na estrada que une Abu Ghraib a Faluja, a 20km da capital, e em um bairro do centro de Bagdá.