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Islamitas estão convencidos de vitória em eleições no Marrocos

RABAT - Os islamitas do Partido Justiça e Desenvolvimento (PJD) expressaram neste sábado sua convicção de que conquistaram mais de 100 assentos dos 395 do Parlamento nas eleições de sexta-feira, o que consideram ser uma "guinada histórica", afirmaram à AFP líderes partidários.

"Os dados de que dispomos nos permitem dizer que temos mais de 100 assentos" dos 495 que estavam em jogo nas eleições, disse à AFP Lahcen Daudi, chefe do grupo legislativo do PJD.

O partido islamita, que diz estar "pronto para viver a experiência governamental", está certo de ter vencido "nas principais cidades", mas também em pequenas localidades. "Vencemos inclusive nas pequenas cidades onde tradicionalmente não estávamos presentes", disse Daudi.

Por sua vez, Mustafá el Jelfi, diretor do periódico oficial do PJD, Attajdid, disse à imprensa que "já ganhamos 80 assentos e posso dizer que teremos facilmente mais de 100. É um momento histórico". Se o PJD vencer estas eleições, o rei será obrigado a escolher um dos líderes deste partido para o posto de primeiro-ministro, de acordo com a nova constituição.

Beneficiados pela chamada "primavera árabe", como ocorreu na Tunísia com o partido islamita Enhada, os islamitas moderados do Marrocos têm agora todas as possibilidades abertas para chegar ao poder pela primeira vez.

A taxa de participação alcançou 45%, de acordo com as primeiras informações divulgadas pelo ministro do Interior, Taib Cherkaui.

"As coalizões que irão ocorrer para formar o novo governo serão com os partidos da Kutla", acrescentou, em referência a uma aliança alcançada em 1992 entre o partido Istiqlal, do atual primeiro-ministro Abbas el-Fassi, e a União Socialista das Forças Populares.

Mais de 30 partidos representados por 7.100 candidatos participaram destas eleições legislativas. "Seja que falemos de Casablanca (a capital econômica), Rabat, Tânger ou Meknes, posso dizer que alcançamos uma vitória de enormes proporções", disse Daudi.

"Ainda em Marrakesh, onde estamos praticamente ausentes, conseguimos uma votação enorme. É uma grande guinada" na política local, acrescentou.

Se esta vitória for confirmada, o Marrocos será o terceiro país muçulmano da bacia do Mediterrânio a ser dirigido por um partido islâmico, junto com Turquia e Tunísia, enquanto se aproximam as eleições de segunda-feira no Egito, que podem levar a Irmandade Muçulmana ao poder.

Trata-se de uma situação inédita que surgiu com a primavera árabe como pano de fundo. "Nosso partido caminha substancialmente à frente dos rivais em todo o país", havia declarado o porta-voz da campanha eleitoral do PJD, Hassan Lamrani, na noite de sexta-feira. "Podemos classificar nossa vitória como muito importante. Temos muita confiança, embora por enquanto eu prefira não falar de uma vitória definitiva", apontou.

Esta cautela mostrada por Lamrani se explica pela desconfiança do PJD na atitude do ministério do Interior, capaz de manipular os números. Após o anúncio dos resultados definitivos, o rei deve designar o chefe de governo e dar a ele a responsabilidade de formar um governo de coalizão.

O primeiro-ministro designado também pode, de acordo com o rei, optar por um governo de união nacional com a ampla participação de diversos partidos políticos.