DUBAI - O acordo para uma transferência pacífica de poder no Iêmen corre o risco de enfrentar diversos obstáculos, entre eles a oposição dos jovens manifestantes e de homens ligados ao presidente Ali Abdullah Saleh no comando, consideraram nesta quinta-feira analistas.
Mas o envolvimento da Arábia Saudita, poderoso vizinho do Iêmen, e a união da comunidade internacional em torno da questão iemenita dão chances de êxito a este acordo assinado na noite de quarta-feira pelo chefe de Estado e a oposição parlamentar em Riad.
Cinco manifestantes hostis ao presidente Saleh foram mortos a tiros nesta quinta-feira em Sanaa, mas o presidente Saleh foi rápido em denunciar os tiros atribuídos a seus partidários.
"Houve muitas experiências amargas com Saleh, que em diversas oportunidades voltou atrás em acordos no passado (...) e é capaz de provocar uma explosão da situação", considera o analista Fares al-Saqqaf, presidente do Centro de Estudos para o Futuro, em Sanaa. "Mas hoje, ele assinou o plano e as chances de não aplicá-lo são mínimas porque ele está submetido à estrita vigilância da Arábia Saudita e da comunidade internacional", acrescentou.
Além disso, afirma o analista, o presidente iemenita teve "um destino honrado", ao contrário de seus pares tunisiano, obrigado a se exilar; egípcio, levado à justiça; e líbio; morto após a sua captura.
Em conformidade com o acordo, Saleh será mantido como presidente honorário durante três meses e obterá a imunidade para ele e seus aliados.
"Saleh conseguiu o suficiente e está cansado de dançar sobre cobras", acrescenta Saqqaf, retomando uma comparação frequentemente citada pelo presidente ao se referir ao governo do Iêmen.
Ibrahim Sharqieh, do Brookings Institute de Doha, considerou que há "chances reais de êxito na iniciativa dos países do Golfo (...), sobretudo em razão do apoio do rei Abdullah da Arábia Saudita e do fato de que a comunidade internacional ter uma posição unificada em relação ao Iêmen".
Mas os obstáculos são muitos neste país pobre, onde as tribos são fortemente armadas e onde Saleh já jogou os diferentes uns contra os outros para governar.
Para Sharqieh, o maior desafio é "a reestruturação das Forças Armadas e de segurança" estipulada pelo acordo. O filho mais velho do presidente, Ahmed, comanda a Guarda Republicana, uma unidade de elite, enquanto vários de seus aliados, entre eles seus sobrinhos, estão à frente de outros órgãos de segurança e seriam contra o acordo, segundo os analistas. "É o verdadeiro teste. A manutenção destes significará a manutenção do regime, apesar da saída de Saleh", disse.
Um outro grande desafio é a posição dos "Jovens da Revolução", que desencadearam a onda de contestação há dez meses: eles se opuseram a este acordo e exigem que o chefe de Estado seja levado à justiça.
A oposição parlamentar que assinou o acordo com o presidente "não possui legitimidade para representar esses jovens", disse Sharqieh. "Os jovens foram excluídos da assinatura do acordo e é indispensável que façam parte" da solução, considerou, por exemplo, "sendo incluídos em um governo" de união nacional.
O analista iemenita Ali Saif Hassan ressaltou que os principais partidos que poderiam fazer este acordo fracassar "mantêm boas relações com a Arábia Saudita", principalmente os adversários do presidente, como o influente chefe tribal xeque Sadek al-Ahmar e o poderoso general dissidente Ali Mohsen al-Ahmar.
Mas ele teme a formação "de um governo fraco, o que representaria uma reedição do caso egípcio", que seria incapaz de atacar os problemas endêmicos do país: os secessionistas do sul, a rebelião zaidita do norte e a Al-Qaeda, que estende sua influência no país.