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Nove manifestantes mortos na Síria antes da expiração do ultimato árabe

Damasco - As forças sírias atiraram contra milhares de manifestantes para dispersar o grupo hostil ao regime nesta sexta-feira. A ação matou pelo menos nove pessoas, entre as vítimas está uma criança, na véspera da expiração do ultimato árabe que exige do presidente Bashar al-Assad o fim da repressão.

Paralelamente, segundo a televisão pública, três membros das forças de segurança foram mortos em um ataque em Hama. Neste momento, os riscos de uma guerra civil se amplificam com a multiplicação dos ataques de militares dissidentes.

Na página do Facebook, os militantes pró-democracia consagraram o dia à "expulsão dos embaixadores" sírios no exterior. Como a cada sexta-feira, desde meados de março, manifestações maciças foram convocadas.

Os manifestantes partiram das mesquitas em várias cidades, apesar da presença militar, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) e os Comitês Locais de Coordenação (LCC), que organizam a contestação.

De acordo com o OSDH e o LCC, dois manifestantes foram mortos em Homs, três pessoas, incluindo uma criança, perderam a vida em Deraa, três outras na região de Damasco e uma oitava em Hama.

O regime Assad parece não escutar as injunções árabes. O prazo estipulado pela Liga Árabe para acabar com a violência contra os civis, sob pena de sanções econômicas, expira neste sábado.

A intransigência dos árabes se deve ao fato de Damasco não respeitar, ao contrário do que prometeu, o plano de saída da crise que prevê o fim da violência, retirada das tropas das cidades, libertação de milhares de presos e o envio de observadores árabes no terreno.

Apesar da crescente pressão do ocidente e dos árabes, Assad ainda pode contar com o apoio de seus aliados chineses e russos, que continuam a rejeitar qualquer ingerência estrangeira na Síria. A violência já fez mais de 3.500 mortos em oito meses, segundo a ONU.

No último mês aumentaram as operações do Exército Livre Sírio (ASL), que agrupa os soldados desertores.

"Existe o risco da evolução na direção de uma guerra civil", disse o chefe da diplomacia turca, Ahmet Davutoglu, cujo país cortou os laços com seu vizinho. A situação ainda não chegou a este ponto porque "na maior parte do tempo, são os civis que são atacados" pelas tropas.

Seu homólogo francês, Alain Juppé, afirmou que "uma guerra civil será a catástrofe" e pediu que a oposição evite "recorrer à insurreição armada", após julgar que é tarde demais para o regime.

Na véspera, o diplomata russo, Sergue; Lavrov, acusou a oposição síria de empurrar o país "para uma verdadeira guerra civil".

Em outubro, a ONU afirmou que uma luta armada não degenera em guerra civil.

Os Estados Unidos se recusaram a falar de guerra civil ao lembrar da "campanha de repressão (...) contra manifestantes inocentes". Eles preconizam uma acentuação das sanções, como a França e a Turquia.

Apesar das divergências entre as grandes potências sobre o caso sírio, Paris, Berlim e Londres querem apresentar ao Comitê dos Direitos Humanos da Assembleia Geral da ONU uma resolução condenando as ações do regime. Uma votação deve ocorrer na terça-feira.

O sucesso de tal iniciativa pode aumentar a pressão sobre o Conselho de Segurança da ONU. A Rússia e a China continuam opostas a qualquer ação da ONU contra o regime Assad.

O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, pediu "moderação e cautela" a seu colega francês, François Fillon, que lamentou o fato de Assad estar "surdo" aos apelos da comunidade internacional diante de uma situação "cada vez mais dramática."