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Síria sofre pressão de países aliados que também condenam conflitos


Em uma semana de acirramento na pressão contra o regime do presidente Bashar Al-Assad, ontem (17) foi a vez de seus dois maiores aliados elevarem o tom para condenar o conflito na Síria. China e Rússia, membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU que têm vetado medidas do órgão contra Damasco, se disseram preocupados com a crise e pediram que governo e oposição cessem com a violência. Para transpor a muralha sino-russa nas Nações Unidas, países europeus trabalham em uma nova resolução a ser apresentada na Assembleia Geral para reprimir a repressão síria aos protestos populares. O texto pode ir à votação na próxima semana e, segundo a diretora jurídica global da organização Human Rights Watch (HRW), Peggy Hicks, deverá ser aprovado pela maioria dos países. Em entrevista ao Correio, ela destacou a importância do apoio brasileiro à iniciativa.

Um dia após a Liga Árabe suspender a Síria e dar um prazo de 72 horas para Al-Assad pôr fim à repressão, a China declarou-se ;muito preocupada; com a situação. O porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Liu Weimin, afirmou que Pequim espera de Damasco a implementação do plano da Liga Árabe, que prevê a libertação de manifestantes e a retirada de tanques das ruas. ;Pedimos às partes envolvidas na Síria o fim da violência e o retorno da estabilidade nacional e da ordem moral o mais rápido possível;, afirmou. Ao ser questionado sobre a opção de uma ação na ONU, ele ponderou que a China deseja que a entidade ;ajude a encontrar um solução às tensões na Síria, a facilitar a resolução de conflitos pelo diálogo político e a manter a paz e a estabilidade no Oriente Médio;.

A Rússia defendeu que a comunidade internacional faça um apelo ao regime sírio e à oposição pelo fim da violência. Moscou pediu a Al-Assad que coloque rapidamente em ação as reformas prometidas, mas ponderou que os opositores também têm culpa pelas mortes no país ; segundo a ONU, as vítimas já passam de 3,5 mil. O chanceler russo, Serguei Lavrov, responsável pelas declarações, afirmou que o ataque de desertores do Exército contra um complexo de inteligência da Força Área síria anteontem se parecia com um ato de ;guerra civil;. Fontes da oposição disseram à agência Reuters que o atentado matou 20 soldados. O ato foi reivindicado pelo Exército Livre Sírio (ESL), que reúne ex-militares do regime. Ontem, um escritório do partido governista Baath foi atacado pelos desertores.


Abastecedores do setor militar sírio, China e Rússia vetaram um projeto apresentado em 4 de outubro no Conselho de Segurança da ONU que ameaçava com medidas específicas contra a Síria. Nações europeias, porém, disseram contar com o apoio de governos árabes para uma nova resolução condenando os abusos de direitos humanos no país. A moção deve ser apresentada à Assembleia Geral da ONU, nos próximos dias. A informação foi confirmada por Peggy Hicks. De acordo com ela, mesmo com a oposição da Rússia e da China, a medida deverá obter o apoio da maioria dos países. O mais provável, na sua opinião, porém, é que Pequim e Moscou assumam uma postura diferente desta vez e, em vez de vetar, se abstenham.

Brasil
A analista diz esperar não apenas o apoio brasileiro à resolução, mas que o país encoraje parceiros da América Latina a avalizarem a medida. ;Como temos visto, recuar e esperar que a situação melhore não funcionará. Nos últimos oito meses, a violência só ficou pior;, disse. Hicks explicou que entende a posição do Brasil quando argumenta temer que uma resolução seja usada de maneira errada e cita o caso da Líbia. No entanto, segundo ela, ;é importante que o Brasil coloque sobre a mesa boas opções;. O Correio apurou que o governo brasileiro está em negociação e não definiu a posição a ser tomada.

A Turquia deve apoiar a medida. Ancara adotou sanções contra Damasco ; com a interrupção da exploração conjunta de petróleo e a ameaça de suspensão do fornecimento de energia. Exilado na Turquia, Mohammad Riad Shafka, líder da Irmandade Muçulmana síria, admitiu ontem que seus compatriotas aceitariam uma intervenção turca contra Damasco.