LIMA - A decisão do segundo vice-presidente peruano, Omar Chehade, de não renunciar a seu cargo enquanto é investigado por tráfico de influência e, em vez disso, pedir uma licença, gera uma situação incômoda no governo de Ollanta Humala, afirmam políticos e analistas.
A negativa de Chehade de renunciar a seu cargo é considerada ainda mais complicada pelo fato de que no domingo passado o presidente Humala pediu durante entrevista pela TV que ele desse um "passo ao lado", o que foi interpretado em vários setores como um pedido de renúncia.
Mas o vice-presidente, em uma carta à opinião pública na terça-feira, afirmou que não renunciaria, pois se considera inocente das acusações, e diz que esperará até que as investigações paralelas da Procuradoria e do Congresso sejam encerradas.
Chehade se reuniu no início de outubro com altos oficiais da polícia em um restaurante de Lima, onde - segundo a acusação de um general que estava presente - expressou interesse em desalojar trabalhadores de uma cooperativa açucareira das terras que ocupavam há três anos para entregá-las ao poderoso grupo empresarial Wong.
O caso dessa cooperativa está nas mãos da Justiça, que é a que deve decidir o destino das terras. O congressista do partido de governo Javier Diéz Conseco qualificou como "equivocada" à decisão de Chehade. "Não é o que o chefe de Estado esperava", completou.
O parlamentar opositor Mauricio Mulder considerou que ao não renunciar a seu cargo Chehade "está criando uma crise política". "Apenas cabe a renúncia, e agarrar-se ao cargo é uma falta de elegância em relação ao presidente Ollanta Humala, que terá que pedir a renúncia para não ficar desautorizado", disse Mulder.
Outro congressista opositor, Carlos Bruce, considerou que "Chehade se equivoca quando diz que renunciar significaria reconhecer que é culpado. Não, renunciar seria assumir sua responsabilidade política". Bruce completou que "Chehade tem que reconhecer que meteu o governo em uma crise política de grandes proporções".
O parlamentar opositor Juan Carlos Eguren qualificou de "lamentável e vergonhosa" a decisão do vice-presidente, completando que ele deveria renunciar por uma "questão de dignidade". "Se seu partido, seu governo, seu presidente, seu premiê te pedem que dê um passo para o lado, o presidente da República fala na mídia, e você não o faz, já é uma questão de orgulho pessoal, de amor próprio, e isso é lamentável", observou.
Para a analista Giovanna Peñaflor, diretora da empresa de pesquisa Imacen, "a atitude de Chehade causará dano ao governo". "Vai haver uma especulação permanente sobre por que não renuncia, a história vai ser um problema pendente, apesar de o presidente já ter tomado uma posição. Acredito que vai ser um elemento de desgaste para Humala", disse à AFP.