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Consumir mais e preservar o clima é impossível sem uso de energia atômica

Paris - O mundo não poderá abandonar a energia nuclear se quiser aumentar o consumo de energia e, ao mesmo tempo, preservar o clima, afirmou nesta quarta-feira (9/11) a Agência Internacional de Energia (AIE) em seu relatório anual.

A AIE, braço energético da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), faz um alerta para países como a Alemanha e a Bélgica que, após a catástrofe nuclear de Fukusima em março, planejam reduzir a produção de energia de origem nuclear.

A capacidade de produção nuclear mundial poderá cair até 15% em 2035, caso nenhuma nova usina seja construída nos países da OCDE, enquanto os países não-membros operarem com a metade da capacidade e se a durabilidade das usinas for reduzida em 5 anos, calcula a agência.

A energia nuclear, que representa 13% da produção mundial, pode, portanto, diminuir para 7%.

Ao abrir mão deste tipo de energia que não produz CO2, os Estados vão, provavelmente, recorrer ao carvão e ao gás, muito mais poluentes.

Além disso, sem a produção atômica a independência energética dos países produtores será prejudicada, já que as fontes de produção energética serão menos diversificadas, acredita a AIE.

O custo da energia aumentará vertiginosamente em razão do aumento da demanda de energias fósseis. A AIE prevê que o preço do barril de petróleo chegará a 120 dólares em 2035, enquanto o consumo aumentará 14%.

Segundo a AIE, o mundo gasta aproximadamente 1,5 bilhão de dólares a cada ano, quase o montante da dívida da França. Para responder ao aumento da demanda mundial será necessário investir, dentro de 25 anos, 38 bilhões de dólares.

O consumo de energia (petróleo, nuclear e energias renováveis) continuará a aumentar cerca de um terço. Impulsionado pelos países não-membros da OCDE, que representam 90% da demanda -- 30% só na China --, deve alcançar até 2035 16,9 bilhões de toneladas de petróleo.

"A China consolida seu lugar de primeiro país consumidor de energia, mesmo que seu consumo por habitante não chegue nem a metade do americano", ressalta a AIE.

As energias fósseis (petróleo, gás natural e carvão) ainda são dominantes, embora a tendência seja diminuir de 81% em 2009 para 75% até 2035 devido ao aumento dos preços e os esforços dos governos em incentivar fontes alternativas de energia.

Apesar das incertezas econômicas ligadas à crise da dívida pública europeia, a AIE acredita que a desaceleração do crescimento mundial em curto prazo afeta apenas marginalmente a tendência ascendente do consumo a longo prazo.

Proporcionalmente ao consumo, as emissões de CO2 vão aumentar em 20%, correndo o risco de não ser mais possível controlar o aumento da temperatura do planeta.

Se os países não investirem até 2017 somas consideráveis em energias alternativas e limpas, a meta para limitar o aumento da temperatura até 2 graus ficará inalcançável para sempre, alertou Fatih Birol, economista chefe da AIE em entrevista.