A falta de disciplina, ordem, controle e métodos está por trás do que o presidente de Cuba, Raúl Castro, identifica como ;os desperdícios e as negligências que atentam contra nosso desenvolvimento econômico e social;. Falando a uma sessão ampliada do Conselho de Ministros, em Havana, o líder máximo do regime comunista fez um diagnóstico implacável do estado da gestão do setor público, com evidências de ineficácia e indícios de corrupção. E acenou com ;punição severa; aos responsáveis, num reconhecimento tácito da impunidade na qual se refugiam funcionários do Estado e do Partido Comunista.
O puxão de orelha do comandante, que há quatro anos substituiu o irmão mais velho, Fidel Castro, coincide com os preparativos finais para a entrada em vigor de um capítulo importante das reformas econômicas aprovadas em abril último pelo 6; Congresso do PC cubano. A partir da próxima quinta-feira, os proprietários de imóveis e veículos particulares poderão negociá-los diretamente, sem depender de intermináveis procedimentos burocráticos. A medida faz parte de um conjunto de mudanças destinadas a dinamizar a economia, incentivar a iniciativa privada e aliviar o setor estatal ; que iniciou um enxugamento e dispensará 500 mil trabalhadores, liberados para atuar como autônomos em uma série de setores de atividade.
Raúl manifestou especial irritação com o que chamou de ;relações contratuais deficientes; entre as empresas públicas, um fenômeno semelhante ao observado nos últimos anos de regime comunista na antiga União Soviética. ;Nenhuma empresa ou entidade pode vender nada que não esteja em condições de entregar;, disparou o presidente cubano, que se referiu à situação em termos como ;desrespeito; e ;descompromisso;. Em especial, o dirigente condenou os responsáveis por produtos e serviços considerados essenciais para a população que se valem dessa posição para atrasar o pagamento de dívidas e o cumprimento de compromissos, sabendo que não sofrerão sanções, pela ;natureza sensível; da atividade.
Sem esconder seu inconformismo com as ilegalidades, Raúl chamou os dirigentes do Partido e do setor estatal a darem o exemplo, e enfatizou que a disciplina nos órgãos públicos é indispensável para enfrentar a corrupção incrustada em numerosos setores da economia. ;Com que moral vamos exigir respeito da população, se os próprios organismos (do Estado) violam normas e regulamentos?;, questionou.
Reformas
O subsecretário de Estado norte-americano William Burns elogiou cautelosamente a autorização dada aos cubanos para comprar e vender casas e automóveis, medida inédita em 50 anos de regime comunista. ;Vemos isso, se for implementado, como um passo positivo no sentido de permitir uma liberdade maior aos cubanos;, disse Burns ao Conselho de Assuntos Mundiais da América. O funcionário ponderou, no entanto, que as relações bilaterais continuam sendo ;extremamente complicadas;: ;Eles negam direitos e oportunidades básicos a seu próprio povo, então essa continua sendo uma relação turbulenta;.