CABUL - O recente assassinato do ex-presidente afegão Burhanudin Rabani no Afeganistão é resultado da vontade do chefe de Estado, Hamid Karzai, de negociar a qualquer preço com os talibãs, denunciou nesta sexta-feira o ex-chefe dos serviços secretos do país.
Em entrevista à AFP, Amrulá Saleh, 40 anos, membro do Jamaat-e-Islami, partido de Rabani, também acusa o Paquistão de usar os talibãs para eliminar personalidades afegãs que lhe são hostis para, no futuro, influenciar politicamente o país.
Rabani, o qual Karzai encarregou em 2010 de estabelecer contato com os talibãs, foi assassinado por um suicida que disse atuar em nome do regime talibã. Se o assassino de Rabani ocorreu tão facilmente, foi pela "vontade desesperada" de Karzai de negociar com os rebeldes, afirma Saleh, chefe dos serviços de inteligência entre 2004 e 2010.
Saleh chama a ONU a abrir uma investigação sobre o assassinato que demonstrará, segundo ele, "a incopetência do governo, o grau de envolvimento do Paquistão e a culpabilidade dos talibãs". "Todos os ataques (contra personalidades) levam a marca de fábrica do inimigo, e os inimigos são os talibãs, a Al-Qaeda e o Paquistão. O cérebro de todos estes ataques se encontra (...) no Paquistão", afirma.
E se os paquistaneses "tiverem êxito", "estarão em posição de força nas potenciais negociações" de paz futuras no Afeganistão, de onde a Otan prevê retirar suas tropas de combate antes do fim de 2014, estima. "Esta campanha dos talibãs não deve ser subestimada", afirma, e denuncia a "teoria" atual de que "poderia haver talibãs moderados, talibãs com os quais se pode discutir". "Que eu saiba, só existe um tipo de talibãs, os extremistas", afirma.
Saleh não se opõe a negociações, sempre que estas incluam "as aspirações das forças antitalibãs". Acusa Karzai de "ter se tornado um pró-talibã" e de ter fragilizado o Parlamento.