TSHIAVHA - Quando a neblina se concentra sobre as montanhas no entorno de uma remota cidade da África do Sul, as crianças olham para o alto com excitação, sabendo que terão água limpa na escola. Assim como ocorre em muitas áreas rurais do país, a água corrente na cidade de Tshiavha, província de Limpopo, é escassa, mas redes de coleta de neblina, montadas nas escolas, trazem algum alívio.
Paisagens montanhosas e o clima úmido fazem da cidade de Tshiavha uma das poucas regiões na seca África do Sul onde a neblina pode ser coletada com um sistema usado nos Andes e no Himalaia e que ainda é uma novidade por ali. Mas com a previsão dos especialistas de que a África Austral ficará mais seca e mais quente nas próximas quatro décadas, estratégias como esta têm atraído novos olhares, enquanto a África do Sul se prepara para sediar a próxima rodada de negociações climáticas da ONU, no final do mês.
Montadas em 2007, com a ajuda de uma universidade local, as redes coletoras de neblina garantem até 2.500 litros de água em um dia bom. "A água é limpa e segura, e não contém produtos químicos", afirmou Lutanyani Malumedzha, diretor da escola fundamental de Tshiavha.
Segundo Malumedzha, o acesso à água limpa melhorou significativamente a saúde das crianças da escola e reduziu o surto de doenças hídricas. "As crianças costumavam levar suas próprias garrafas d;água para a escola, durante os meses secos e quentes. A água, retirada de poços lamacentos, era inadequada ao consumo humano", disse Malumedzha.
Em algumas áreas, comunidades compartilham a água potável com o gado.
Embora a qualidade da água na África do Sul seja considerada uma das melhores do mundo, comunidades rurais estão muito atrasadas quando se trata de água corrente. "Aprendemos a valorizar a água e a tratá-la como uma commodity preciosa", explicou Malumedza. "Nenhuma gota é desperdiçada. Parte dela vai para lá", acrescentou, apontando para uma horta que abastece a escola com alimentos.
A malha de 4 metros de altura, montada no playground da escola, lembra uma rede de vôlei, exceto pela canaleta que conduz as gotas para um tanque construído a alguns metros dali.
Uma alternativa com boa relação custo-benefício
Malumedza explicou que o requer dispensa equipamentos eletrônicos e requer pouca manutenção.
Como se trata de um país relativamente seco, a água é escassa na África do Sul e áreas remotas sem infraestrutura são as mais afetadas pelas mudanças no padrão climático. "Esta é uma alternativa com boa relação custo-benefício, que pode ser explorada de forma eficiente, em vista dos desafios hídricos que o país enfrenta", explicou Liesl Dyson, pesquisadora da Universidade de Pretória.
A província de Limpopo, ao norte, na fronteira com Botsuana, Zimbábue e Moçambique, onde fica o famoso Parque Nacional Kruger, é uma das regiões mais quentes do país.
Mas este é um dos poucos lugares do país com um clima propício para a coleta de neblina. "A neblina apenas não é suficiente, também é necessário vento para soprá-la", explicou Dyson. "Não ajuda muito se a neblina apenas se concentrar nas montanhas, sem se mover", acrescentou.
Segundo ela, o sistema foi usado em algumas áreas na costa oeste e no Transkei, província do leste do Cabo. De acordo com o Conselho para a Pesquisa Industrial e Científica, a África do Sul tem um índice pluviométrico anual de 490 milímetros, a metade da média mundial.
Mesmo sem considerar os efeitos das mudanças climáticas, espera-se que a África do Sul enfrente escassez hídrica em 2025 e há planos de construir uma nova represa em Lesoto para levar mais água ao país.