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Síria ignora plano da Liga Árabe para deter violência e repressão continua

DOHA - O ministro de Relações Exteriores sírio, Walid al Mualem, partiu nesta segunda-feira (31) do Qatar sem dar uma resposta ao plano da Liga Árabe para deter a violência na Síria, onde a Otan descarta intervir militarmente.

O plano árabe prevê o "cessar imediato" da violência e a "retirada dos tanques" para "transmitir uma mensagem tranquilizadora às ruas da Síria", explicou à AFP o chefe da organização, Nabil al Arabi. Mas as forças de segurança continuaram com sua repressão sangrenta, matando sete civis e um desertor do exército.

O plano árabe também estipula "o início no Cairo de um diálogo nacional entre todos os componentes da oposição e do regime", esclareceu Arabi, que partiu do Qatar à tarde, segundo um membro de sua delegação.

A delegação síria também deixou Doha "sem dar uma reposta" ao plano árabe, segundo a emissora de televisão via satélite Al Jazeera, sediada no Qatar.

Em declaração publicada no jornal The Daily Telegraph, Assad, confrontado há mais de sete meses por uma revolta, questionou a representatividade do Conselho Nacional Sírio, que reúne boa parte da oposição. "Não vou perder meu tempo falando com eles. Não os conheço, mais vale investigar para saber se representam realmente os sírios", disse.

No domingo, já havia advertido que uma intervenção ocidental em seu país provocaria um "terremoto" no Oriente Médio.

O chefe da Otan, Anders Fogh Rasmussen, disse nesta segunda-feira que uma intervenção militar da Aliança no país estava "completamente descartada". "Não temos nenhuma intenção de intervir na Síria", afirmou no avião que o transportava à Líbia, apesar de ter condenado "firmemente" a repressão contra os civis.

Nesta segunda-feira morreram sete civis, um dia depois da morte de outros tantos na dispersão de manifestações que pediam à Liga Árabe a suspensão da adesão da Síria. Cinco morreram ao serem atingidos por tiros em Homs (centro), um dos focos da contestação popular, um em Harasta, perto de Damasco, e outro na província de Hama (norte), além de um soldado desertor, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma ONG com sede no Reino Unido.

Dezenas de estudantes marcharam na universidade de Qalamun, na província de Damasco, para pedir a renúncia do presidente sírio, e na de Deraa (sul), onde as forças de segurança dispararam e realizaram prisões, segundo a mesma fonte.

O regime sírio, que atribui a violência a "grupos terroristas", reprime os protestos sem dar trégua. Mais de 3.000 pessoas morreram desde 15 de março, segundo a ONU.

A insurreição popular transforma-se em conflito armado com a multiplicação de confrontos entre soldados, membros das forças de segurança e desertores, que deixaram dezenas de mortos nos últimos dias. Entretanto, em Damasco, um comitê nacional começou a "elaborar um projeto de nova Constituição para a Síria", segundo a agência oficial Sana.

A elaboração de uma nova Constituição era uma das principais reivindicações da oposição no início da revolta em 15 de março, mas agora exige a renúncia de Assad.