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Polêmica sobre necropsia em Muamar Kadafi

Ayman Abushahma, 42 anos, foi o primeiro médico de Misrata a ver o corpo de Muamar Kadafi, ainda na quinta-feira. Em entrevista ao Correio, por telefone, ele contou que ajudou a retirar amostras de DNA do ex-ditador e do filho Mutassim, com a ajuda de um especialista britânico. ;Colhemos pedaços de cabelo e raspamos a mucosa da boca de Kadafi. Nele, havia dois ferimentos à bala. Um dos projéteis entrou na têmpora esquerda, perto da orelha, e saiu por entre os olhos. O outro atingiu a porção direita do abdome e pode ter afetado o fígado;, descreveu.

De acordo com Ayman, existia a expectativa de que a necropsia em Kadafi fosse feita ainda ontem. ;Nossos legistas realizaram o exame em Mutassim ontem (sexta-feira);, admitiu. No entanto, o porta-voz do Conselho Militar de Misrata, Fathi Bachagha, e dois integrantes do órgão descartavam o exame. ;Não haverá necropsia, nem hoje, nem outro dia. Ninguém abrirá o corpo;, declarou Bachagha.

Os cadáveres de Kadafi e de Mutassim seguiam ontem expostos numa câmera frigorífica do Mercado Tunisiano, também em Misrata. Crianças, homens e mulheres faziam fila ontem para ver de perto o coronel morto. Apenas as cabeças de pai e filho eram visíveis ; os restos dos corpos permaneciam cobertos. Mutassim tinha os olhos e a boca abertos, ao contrário de Kadafi.

Ayman contraria Bachagha e sustenta a obrigatoriedade da necropsia. ;Em qualquer presidente morto, você deve fazer o exame para saber como ele morreu. No caso de Kadafi, isso é importante para determinar qual bala o matou: a que atingiu o fígado ou a que entrou pela cabeça. Bachagha é um soldado e está falando sobre o que não conhece;, comenta. Ele revelou que, anteontem, um especialista estrangeiro teve acesso aos cadáveres. ;Creio que era do Tribunal Penal Internacional ou do FBI;, disse. A tribo de Kadafi exigiu ontem que o Conselho Nacional de Transição (CNT) lhe entregue os corpos, para que ambos sejam enterrados em Sirte, cidade natal do ex-ditador. As autoridades do novo governo, porém, admitem realizar as cerimônias fúnebres e o sepultamento em local secreto.

Não haverá necropsia, nem hoje, nem outro dia. Ninguém abrirá o corpo"
Fathi Bachagha, porta-voz do Conselho Militar de Misrata