Israel e o grupo extremista palestino Hamas acertavam ontem os últimos detalhes para a troca de prisioneiros que deve ser feita a partir desta semana. A expectativa é de que o soldado israelense Gilad Shalit seja libertado na próxima terça-feira, pouco depois de Israel soltar um primeiro grupo de 477 palestinos detidos no país ; mais 550 ganharão a liberdade no prazo de dois meses. O acordo, mediado pelo Egito, fortalece o Hamas na disputa interna palestina, inclusive pela possibilidade de que o acerto inclua medidas para abrandar o bloqueio israelense à Faixa de Gaza.
;O acerto sobre os prisioneiros é parte integrante da rivalidade interna palestina;, afirma o professor Gerson Shafir, da Universidade da Califórnia em San Diego. ;O prestígio do Hamas, certamente, vai aumentar, mas a organização ainda sofre pela ausência de vontade para traduzir suas realizações em um plano de compromisso político com Israel;, analisa o professor, especialista em conflitos entre judeus e muçulmanos. Recentemente, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas ; que pertence ao partido nacionalista Fatah, rival do Hamas ;, entrou com o pedido de ingresso do Estado palestino como 194; país-membro das Nações Unidas, mas os fundamentalistas se opõem à iniciativa.
O maior problema, opina Shafir, é que as duas organizações políticas não se acertam sobre como deve ser o diálogo com Israel. ;O movimento de Abbas dá prioridade às necessidades políticas dos palestinos que estão na Cisjordânia. Já o Hamas pretende representar todos os palestinos, incluindo os que estão em Gaza e em Jerusalém Oriental;, diz. Enquanto isso, as autoridades israelenses toparam o desgaste de trocar a vida do soldado Shalit pela liberdade de alguns dos mais perigosos terroristas palestinos. ;Alguns serão deportados para a Turquia, mas, a longo prazo, vão representar perigo para Israel;, aponta o professor Shafir.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, justificou a negociação com o Hamas por conta da situação de outros países da região. ;Eu não sei se o futuro nos permitiria obter um acordo melhor, ou qualquer outro acordo;, disse. Uma fonte egípcia ouvida pelo jornal árabe Al-Hayat afirmou que o Hamas estaria tentando aumentar o número de prisioneiros a serem libertados. A ideia era incluir mais oito mulheres na lista original, que tem 27 prisioneiras.
Provocação
Como se não bastasse a tensão em torno do acordo com o Hamas, as autoridades de Israel estão sob crítica internacional por autorizarem novos assentamentos em território palestino. O anúncio de construções em Jerusalém Oriental desagradou o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que classificou a medida era como uma provocação. ;O secretário-geral está profundamente preocupado pelos contínuos esforços em avançar o planejamento de novos assentamentos israelenses em Jerusalém Oriental;, declarou o porta-voz Martin Nesirky. ;Ele também reitera que a comunidade internacional não reconhecerá ações unilaterais e que o status de Jerusalém apenas pode ser resolvido mediante negociações;, completou Nesirky.