TEERÃ - O Irã negou as acusações americanas que o envolvem em um plano para assassinar o embaixador saudita nos Estados Unidos, e afirmou nesta quarta-feira que se trata de um golpe montado por Washington com o objetivo de dividir os países muçulmanos para tirar Israel do isolamento atual.
O procurador-geral americano, Eric Holder, anunciou na terça-feira o suposto envolvimento de dois cidadãos iranianos acusados de planejar o assassinato do embaixador da Arábia Saudita, Adel Al-Jubeir, em meio a uma conspiração "concebida, organizada e dirigida" pelo Irã.
É um "cenário ridículo, montado de cima a baixo" para gerar tensões entre o Irã e seus vizinhos árabes do Golfo, reagiu imediatamente Teerã.
"As relações entre Irã e Arábia Saudita se baseiam no respeito mútuo e uma acusação sem fundamento como esta não levará a lugar algum", disse o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Ramin Mehmanparast.
Washington tenta ao mesmo tempo "desviar a atenção de seus problemas internos" e criar divisões nos países muçulmanos para "tirar Israel de seu isolamento atual", declarou.
Teerã manifestou, no entanto, sua preocupação com as possíveis consequências das acusações americanas, e alertou os Estados Unidos para qualquer tentativa de "enfrentamento".
"Não buscamos o confronto, mas se (os Estados Unidos) quiserem, as consequências serão mais graves para eles" do que para o Irã, disse o chefe da diplomacia, Ali Akbar Salehi.
O Irã também alertou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, assim como o Conselho de Segurança, sobre as "consequências perigosas" que as acusações americanas poderão ter na estabilidade do Golfo e do Oriente Médio.
Em uma carta oficial, o embaixador do Irã na ONU, Mohammad Jazaee, também pediu que os "vizinhos muçulmanos permaneçam alertas frente às campanhas viciosas (dos Estados Unidos) destinadas a prejudicar a paz e as relações amistosas entre os países da região".
"Esse procedimento solene e a rapidez incomum para as reações iranianas mostram que o Irã leva o assunto muito a sério", destacou o diplomata ocidental em Teerã.
Não faltam motivos para preocupação. O Reino Unido transmitiu a Washington seu apoio para novas sanções contra o Irã e a União Europeia (UE) advertiu Teerã de que o assunto terá "consequências muito graves" caso as acusações americanas sejam fundamentadas.
O Pentágono indicou nesta quarta-feira que o suposto complô requer uma resposta diplomática e legal, minimizando a possibilidade de uma ação militar.
"O Exército dos Estados Unidos têm preocupações de longa data acerca da influência maligna do Irã na região. No entanto, em relação a este caso, trata-se de uma questão de caráter judicial e diplomático", disse a jornalistas o porta-voz do Pentágono, John Kirby.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, qualificou o fato como uma "perigosa escalada" de Teerã, e pediu uma condenação internacional.
O atentado é "uma flagrante violação da lei internacional e americana e uma perigosa escalada do uso da violência política e apoio do terrorismo de longa data por parte do governo iraniano", disse Hillary. "O Irã deve prestar contas por suas ações".
As autoridades sauditas optaram por uma relativa discrição, limitando-se a condenar "uma violação odiosa das convenções internacionais", em um comunicado de sua embaixada em Washington.
Os círculos diplomáticos em Teerã destacam que este caso ocorre em um momento em que as relações entre iranianos e sauditas se deterioraram muito após a intervenção militar saudita no Bahrein em março passado para ajudar a reprimir a revolta da população, majoritariamente xiita, como no Irã, contra a dinastia sunita do emirado.
Teerã criticou essa intervenção e foi acusado de ingerência nos assuntos internos de seus vizinhos para tentar desestabilizá-los.
Riad também acusou o Irã de ter fomentado manifestações violentas na semana passada na região do leste da Arábia Saudita, de maioria xiita, e deu a entender que o fato teria consequências.