Jornal Correio Braziliense

Mundo

EUA denunciam plano de ataque às embaixadas da Arábia Saudita e de Israel

[FOTO1]

Se em mais de 30 anos Estados Unidos e Irã não foram capazes de retomar as relações diplomáticas, essa possibilidade parece ainda mais distante com uma nova crise que tomou forma ontem. O governo norte-americano anunciou ter descoberto e impedido um plano terrorista para assassinar o embaixador da Arábia Saudita em Washington e atacar a representação de Israel. Segundo o procurador-geral, Eric Holder, os mentores e executores do atentado frustrado teriam ligação com Teerã. Imediatamente, o governo iraniano respondeu acusando os EUA de darem início a ;mais uma campanha de difamação;. A Arábia Saudita, por sua vez, disse que ;tomará medidas; e, ;no mínimo;, chamará seu embaixador no Irã para consultas.

Na entrevista coletiva, Holder apresentou aos jornalistas documentos oficiais da denúncia levada a um tribunal de Washington. Segundo os papéis, o FBI (polícia federal dos EUA) e a agência de combate às drogas, a DEA, desmantelaram o plano e chegaram aos nomes de dois suspeitos: Manssor Arbabsiar, iraniano naturalizado norte-americano, que foi preso em setembro, e Gholam Shakuri, que está em liberdade.

O procurador-geral responsabilizou ;setores do regime; iraniano pela trama e garantiu que Washington punirá a República Islâmica. Mais tarde, o Departamento do Tesouro anunciou sanções contra membros da Força Quds, uma divisão da Guarda Revolucionária ; unidade militar de elite do Irã ;, implicada no complô por Holder. O procurador-geral afirmou que os dois acusados teriam ligação com agentes de Teerã. ;A queixa criminal revelada expõe um complô mortal dirigido por facções do governo iraniano para assassinar um embaixador estrangeiro em território norte-americano, com explosivos;, disse.

Holder também apontou conexões entre os envolvidos e cartéis da cocaína no México, cujo governo foi comunicado. Segundo a denúncia, os dois acusados teriam entrado em contato com um agente da DEA infiltrado em uma organização criminosa mexicana, no âmbito de investigações sobre o narcotráfico. Os iranianos teriam proposto ao falso traficante que providenciasse a execução dos atentados, pelos quais pagariam US$ 1,5 milhão.

O presidente Barack Obama foi informado, assim como a secretária de Estado, Hillary Clinton. Esta afirmou que o suposto plano deve isolar ;ainda mais; o Irã da comunidade internacional, e antecipou que seu governo deverá consultar outros países sobre a oportunidade de levar o caso ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A resposta iraniana veio logo após o anúncio de Holder. Ali Akbar Javanfekr, porta-voz do presidente Mahmud Ahmadinejad, citou para a rede americana de tevê CNN uma nota oficial na qual o governo iraniano denuncia uma ;manobra; norte-americana para difamar o país. ;O governo dos EUA está ocupado fabricando um novo cenário e a história tem mostrado que tanto a administração como a CIA (agência de inteligência dos EUA) têm grande experiência nisso;, disse o porta-voz. ;Eles querem desviar as atenções do público para os sérios problemas domésticos que estão enfrentando atualmente, e tentam assustar (os cidadãos) fabricando problemas fora do país.;

Dúvidas
Para o diretor do Centro de Estudos Internacionais do Massachusetts Institute of Technology (MIT), John Tirman, há muitas questões a serem respondidas sobre o episódio, e a principal delas é o porquê de a história vir à tona neste momento. ;Por que um plano do Irã para assassinar um embaixador em Washington, onde a segurança é mais reforçada do que em qualquer outro lugar?;, questionou, em entrevista ao Correio. O que é certo, em sua opinião, é uma escala de tensão entre EUA e Irã.

Em Riad, o porta-voz governamental Abdullah Alshammari declarou, em entrevista à agência de notícias Reuters, que a Arábia Saudita ;tomará medidas; em resposta à ameaça contra seu embaixador nos EUA, Adel Al-Jubeir. ;Após esse incidente, muitos esperam que o reino tome providências e, no mínimo, chame (de volta a Riad) seu embaixador no Irã;, disse Alshammari. ;Na opinião dos que tomam as decisões no país, essa situação não passará impunemente.;