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Turquia assume o papel de líder entre as nações do Oriente Médio

Em um cenário de revoluções contra políticas autoritárias e conflitos internos que marcam o mundo árabe, a força de um país estável e em pleno desenvolvimento econômico impera. A Turquia assume um papel inédito de liderança no Oriente Médio. Enquanto, nos últimos anos, o foco do governo turco estava na entrada do país na União Europeia, sem nenhuma resposta positiva no horizonte, agora parece ser a hora de olhar para o outro lado e se unir aos vizinhos ; e mostrar seu poder. A experiência turca, de ter um partido islâmico no comando da nação, torna-se extremamente relevante para a região neste momento atual de transformação democrática.Com a eclosão da Primavera Árabe e o possível reconhecimento do Estado palestino pela Organização das Nações Unidas (ONU), o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, reeleito nas eleições gerais de junho passado, aproveita a recente popularidade e coloca seus interesses nas mesas de negociação.

Com uma população de 72 milhões, o segundo maior contingente nas forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a 16; maior economia no mundo e uma democracia estável, a Turquia consegue ter um bom relacionamento com os vizinhos árabes. Ao contrário dos regimes que passaram por revoltas ou enfrentam a insatisfação da população, os turcos experimentam crescimento político, econômico, diplomático e militar. ;O que é mais importante para os Estados árabes são as lições que eles podem aprender com a Turquia. O Partido da Justiça e do Desenvolvimento, que tem raízes islâmicas, transformou-se, mudou as instituições democráticas e criou um espaço no meio político sem fazer dele um sistema religioso. E, com essa fórmula, a economia cresceu bastante;, explica Ramazan Kilinc, professor-assistente de ciência política da Universidade de Nebraska-Omaha.

O atual primeiro-ministro levou um tom moderado para a política interna e aumentou o investimento estrangeiro e o comércio internacional. ;A renda per capita quadruplicou na última década e a Turquia investiu significativamente na política externa;, afirma Kilinc. O governo investiu mais na diplomacia e no papel de moderador no cenário, como fez em 2010 na questão nuclear do Irã, ao lado do Brasil. Nos últimos meses, com as mudanças na região e o rompimento com Israel ; devido ao fato de a nação hebraica ter se recusado a pedir desculpas pelo ataque a uma frota humanitária que partiu da Turquia rumo a Gaza ;, a administração de Erdogan ficou ainda mais em evidência. ;Tudo isso atraiu a atenção do povo árabe e fez com que a influência turca aumentasse na região;, completa o especialista turco.

Discurso
Erdogan conseguiu se distanciar dos regimes autoritários alvos da Primavera Árabe, especialmente os da Síria e da Líbia, e tornou-se popular no mundo árabe ao defender os interesses palestinos diante da Liga Árabe nas últimas semanas.

;A Turquia tem um sentimento de grandeza e a vontade de ter um papel maior no cenário internacional. Deve funcionar como um irmão mais velho para outros países muçulmanos. A manobra da liderança, por enquanto, é mais baseada nas conversas do que em algo concreto e substancial;, observa Umut Uzer, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de Utah.

A habilidade de Erdogan de falar em público e liderar grupos sempre marcou sua história. Ele foi um importante jogador de futebol, conseguiu entrar na política por meio do Partido da Justiça e do Desenvolvimento e chegou a ser preso pelos militares por declamar um poema em praça pública.

Agora, muitos especialistas o comparam com o ex-presidente egípcio e ícone da região Abdel Nasser. ;Ele não quer necessariamente se tornar uma superliderança na região, mas aproveita-se da popularidade. Erdogan é o único líder político, atualmente, cuja influência e carisma ultrapassam as fronteiras nacionais. Isso é um fenômeno, uma raridade no Oriente Médio. Sua estratégia de política externa promove estabilidade e interação econômica. Ele está seguindo os passos de muitos líderes europeus em termos de cooperação e integração para reduzir a tensão na vizinhança;, aponta Ihsan Dagi, professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Técnica do Oriente Médio.

Por outro lado, as tensões com Israel podem envolver a Turquia em outros problemas. Recentemente, por exemplo, Ancara condenou a exploração de gás e petróleo no litoral de Chipre, realizada em conjunto com os israelenses, e chegou a ameaçar enviar navios militares ao local.

;A tensão é real e perigosa. Ela ameaça a paz no Mediterrâneo. Faz apenas dois anos que a Turquia estava mediando um acordo entre Israel e Síria. Agora, precisa de mediação para tratar as suas diferenças. Eu acredito que os israelenses estão levando os turcos para mergulhar no território barrento do Oriente Médio. E Erdogan está usando a tensão para aumentar seu apelo nas massas árabes;, afirma Dagi.


Encontro com Dilma


A Turquia é o destino final da presidente Dilma Rousseff na viagem internacional que ela iniciou ontem pela Bélgica. O outro país a ser visitado é a Bulgária. Dilma chegará a Ancara na sexta-feira, quando se reunirá com o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, e com o presidente turco, Abdullah Gül. Depois da visita ao país, Dilma voltará ao Brasil no sábado.


A Turquia tem um sentimento de grandeza e a vontade de ter um papel maior no cenário internacional. Deve funcionar como um irmão mais velho para outros países muçulmanos;
Umut Uzer, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de Utah


Erdogan é o único líder político, atualmente, cuja influência e carisma ultrapassam as fronteiras nacionais. Isso é um fenômeno, uma raridade no Oriente Médio;

Ihsan Dagi, professor da Universidade Técnica do Oriente Médio