Genebra - O cineasta franco-polonês Roman Polanski, 78 anos, manifestou-se pela primeira vez sobre sua prisão na Suíça, ocorrida há dois anos, e afirmou a uma TV do país ter passado por "33 anos de arrependimento" ao se referir ao caso de abuso sexual de uma menina de 13 anos nos Estados Unidos em 1977.
Questionado sobre essa "pulsão, parecida com a de Dominique Strauss-Kahn, que bagunçou sua vida" e provocou sua prisão nos Estados Unidos naquele ano - por ter relações sexuais com uma menor - Polasnki disse que lamentava. "É claro que me arrependo, há 33 anos eu me arrependo", reiterou. A entrevista à TV será divulgada no domingo.
"Acredito que estou mais duro", disse Polanski ao ser questionado pelo jornalista suíço Darius Rochebin que lhe perguntou sobre como fez para suportar todas as tragédias que sofreu durante sua vida.
O diretor conta que cruzou com a morte pela primeira vez quando tinha 7 anos, no gueto de Varsóvia, onde mataram uma mulher "a quatro metros de onde eu estava".
"Estou acostumado com a morte, um pouco como os cirurgiões estão habituados em ver um ventre aberto, mas agora estou em um período em que me dá medo quando toca o telefone e escuto a voz da mulher de um amigo", completou, afirmando que "tem pressa de ouvir boas notícias".
Polanski afirma ter descoberto a Suíça há 40 anos, quando um amigo lhe disse que viajasse ao país para escapar dos jornalistas que não lhe deixavam tranquilo após o assassinato de sua mulher Sheron Tate, que estava grávida de oito meses.
"No início, antes que prendessem Charles Manson, me consideravam suspeito, porque eu acabava de realizar um filme, ;O Bebê de Rosemary;. Houve uma confusão insuportável, falavam mal de mim, e um amigo me disse: venha para cá (Suíça), ficará tranquilo", contou.
"Aqui é diferente, ainda há valores que são respeitados, e que estão desaparecendo no restante do mundo", completou o cineasta para explicar seu apego à Suíça.
Em relação a seu último filme, "Carnage", Polanski contou que havia escrito o roteiro enquanto estava em prisão domiciliar. "Eram boas condições. Eu obrigaria alguns a serem presos para se dedicarem a trabalhar", disse.
Nesse filme, explicou, tentava denunciar "o politicamente correto, e mostrar que sob o verniz, há muita barbárie. Todos somos assim, com algumas exceções, eu, tenho menos verniz", declarou.
Polanski foi preso na Suíça em setembro de 2009 quando ia receber um prêmio no Festival de Zurique, devido a uma solicitação de extradição apresentada pelos Estados Unidos.
O cineasta pôde sair da prisão de Zurique em 4 de dezembro daquele ano para cumprir prisão domiciliar em Gstaad, uma pequena estação de esportes de inverno no cantão de Berna, após pagar uma fiança de 3,7 milhões de dólares.
Finalmente, a Suíça se negou a extraditar Polanski para os Estados Unidos, e o deixou em completa liberdade em julho de 2010.